Pós-simpósio

Rolou na terça da semana passada a mesa no simpósio de arte contemporânea no paço das artes. Antes da mesa, fui almoçar com o pessoal do Weblab no Sweden, e encontramos um pessoal do simpósio por lá (entre eles nosso amigo desviante James Wallbank, do lowtech.org). Dei uma carona pro James até o Paço. Fui apresentado para os participantes da mesa, Rogério da Costa e Alberto Cuenca, e o debatedor Eugenio Figueroa.

Fiz uma breve introdução, falando sobre como as redes reconfiguram fundamentalmente a sociedade, e com isso colocam de outra forma a questão do acesso a informação e conhecimento.

Alberto começou a mesa, discorrendo sobre as implicações e contradições da indústria da propriedade intelectual em uma sociedade interligada. Deu como exemplos o software livre, os wikis, a creative commons. Citou Ned Rossiter - as redes organizadas e a busca de novas formas institucionais. Focou bastante no contexto legal do copyright. Também trouxe a imagem do Lamborn Wilson - o navio como simultaneamente motor do capitalismo e resistência a ele.

Na sequência, Rogério levantou algumas questões - desde o começo da disponibilização das bases de dados nos anos noventa até as informações disponíveis no espaço físico (olha o zasf aí ;)) da internet of things. Colocou que o conceito de redes sociais vem da sociologia nos anos oitenta, assim como a ideia de laços fortes e laços fracos. Explanou um pouco sobre a importância dos laços fracos na alimentação de ciclos de inovação.

Aproveitei o interstício antes do debate com Eugenio para comentar alguma coisa sobre as críticas evidentes ao creative commons (como fez esse pessoal) e à visão eurocêntrica das redes (como comentei aqui). Sugeri que talvez a limitação dessa visão comum das redes é imaginá-las como mera alternativa às estruturas tradicionais - família, trabalho, escola, igreja -, e que talvez pensar em várias camadas de redes sobrepostas pudesse ser mais adequado aos dias de hoje: dependendo do contexto, tenho links fortes ou fracos com as mesmas pessoas. Também falei do tecnobrega como criação de outras formas.

Eugenio levou muito bem o debate, logo depois. Falou sobre novos mapas políticos, sociais e econômicos; sobre simultaneidade e cacofonia. Relacionou o analfabetismo funcional da América Latina à internet, e questionou como esses fatos se ligam. Falou sobre a imagem do sujeito racional e crítico que está associada às nações modernas.

Daí o debate foi ficando mais interessante, e fui anotando cada vez menos ;) Por conta disso, demoramos a abrir para perguntas da plateia. Quando o fizemos, quem pegou o microfone foi a Flavia Vivacqua, que elaborou um pouco sobre redes de artistas, estruturas jurídicas, confiança e sustentabilidade.

Em mais de um momento, me pareceu que a ansiedade que emergia - o analfabetismo funcional, a limitação da estrutura legal, a falta de repertório para relacionar-se com o conhecimento cada vez mais acessível, a precariedade para quem está inovando - vinha do fato de que as coisas não se transformam de uma hora para outra. Em outras palavras: estamos no processo de transformar isso tudo. Mais do que um impeditivo ao uso das redes online, o analfabetismo funcional pode ser problema a ser resolvido com o auxílio delas. A reação da indústria fonográfica às novas possibilidades é mais do que esperada, e me impressiona na verdade que ainda seja restrita - vai piorar antes de perceberem a inviabilidade de manter as estruturas consolidadas de poder. O repertório vai se formando (mesmo que seja diferente do que a gente costuma esperar).

Ainda comentei, depois da mesa, com a Flavia: as conversas sobre sustentabilidade das redes autônomas, bem ou mal, já começaram há algum tempo. Naquele dia, aconteceram no simpósio de arte do paço, há alguns meses aconteceram no paralelo. Temos é que continuar e sempre aproveitar esses espaços para refletir sobre nossas práticas e sempre tentar melhorá-las.

PS.: um relato muito mais detalhado foi publicado no Canal Contemporâneo.