Medialabs - pra quê mesmo? (1)

Do texto para um projeto que não saiu, há uns meses:

Em março passado, durante uma das sessões do Paralelo, o inglês Mike Stubbs questionou qual era o papel de um centro de artes nos dias de hoje. A pergunta pode ser estendida para o contexto dos medialabs: em um cenário no qual o acesso a tecnologias de produção e publicação de mídias está cada vez mais facilitado, um cenário em que as redes abertas fazem a informação circular diretamente entre as pessoas, qual a razão de existir um laboratório de mídia? A dinâmica do trabalho criativo tem se transformado de forma cada vez mais rápida, e a estratégia "build it and they'll come" não faz mais sentido. Para incentivar a produção criativa, é necessária uma sensação de liberdade de apropriação e de gestão compartilhada, no sentido da reconstrução da própria idéia de espaço público.

Mais do que oferecer simplesmente uma estrutura, os medialabs mais interessantes de hoje em dia - hangar, medialab prado, eyebeam, entre outros - engajam-se em diálogo cada vez mais aberto e crítico com o meio com o qual se relacionam, e tornam-se espaços de referência e intercâmbio, cabeças de rede, muito mais agenciando conversas do que expressando sua própria perspectiva.

Esse diálogo reside potencialmente em qualquer espaço, desde que se baseie em uma posição de abertura autêntica. Em um primeiro momento, toda conversa nesse sentido vai parecer a reafirmação de posições já existentes: as pessoas vão reclamar da mesma coisa que já reclamaram, colocar demandas que já sabem que têm. Mas trabalhando alguns fatores-chave é possível ir além e construir uma conversa propositiva de ocupação e apropriação coletivas de espaços simbólicos.

Apropriação de redes

Da mesma forma que com os medialabs, a criação e dinamização de redes não pode se limitar à estrutura. Um traço característico das culturas brasileiras é justamente a força que as redes adquirem no cotidiano. Chama a atenção em todo o mundo o nosso nível profundo de apropriação de ambientes sociais online, o recorde mundial de horas conectados, a naturalidade da gramática da rede. Algumas das iniciativas brasileiras mais relevantes no cenário da mídia eletrônica são exatamente aquelas que se configuram como redes abertas (por exemplo, projetos que venceram ou levaram menção honrosa no Prix Ars Electronica - Overmundo, MetaReciclagem, Mídia Tática). Queremos tratar essa perspectiva não só como ferramenta ou estrutura, mas como eixo conceitual, a construção de novos horizontes sobre espaços experimentais e de produção artística, e entender como isso dialoga com nossa maneira única de negociar os espaços cotidianos. Em outras palavras, não só usar uma rede para falar sobre arte, mas essencialmente tratar a própria rede como um projeto experimental.

3 comments on Medialabs - pra quê mesmo? (1)

  1. tati (não verificado)
    seg, 01/02/2010 - 09:35
    isso, concordo com banto! falta a gente se apropriar do termo mídia tática de fato! nascido no brasil de um evento conceitofágico, sem livro ou pai e mãe fundadora mas praticado em qualquer muro mais branco, em um texto ou prática mais desviante.. nos ares e nos lares, é o modo cotidiano de ser brasileirx.. falta apenas chamar o quer fazemos de tático, aprofundarmos nossos conceitos, uma a-propri-a-ção simbólica.. ainda bem que ele nunca vai chegar num projeto! besos taticamente feministas!
  2. Felipe Machado (não verificado)
    sab, 12/12/2009 - 19:39
    intercâmbio!! cadê a colaboraćão presencial. espaćos para troca de idéias entre pessoas, não entre nick names, apenas. vejo isso muito no metarec, não o metarec de sp, mas toooodas as pessoas que encarnaram o discurso e as "atitudes" metarecicleiras. concordo com o banto, cadê a galera na quebrada? precisamos de espaćo!! espaćo de colaboraćão presencial, cotidiana, na vibe daquele papo na esquina, trocando experiência por trocar, nada daquelas metas comunistas/capitalistas, apenas intercambio! andar em bando tá no sangue.
  3. banto (não verificado)
    sab, 05/12/2009 - 17:36
    esse negócio do espaço é fundamental para rever esse processo da nova idade média, desse emburguesamento da vida no sentido que os espaços privados se tornam público para gerar lucro, padronizar comportamentos e idéias. não creio que o overmundo ou midia tática tenha conseguido o que o metareciclagem: ser popular. o metareciclagem está na quebrada, nos bairros de periferias, não só em discussão por público acadêmico de cuspir nomes de autores/autoras, termos em inglês, experiências da gringa e tal.. foi um filho que cresceu e criou personalidade própria e novos espaços são criados, que morrem e nascem constantamente aqui e ali, seja pelo fim de financiamento pelo governo ou tesão da galera, mas logo ressurgi com suas cores e formas de acordo com a questão étnica-racial-regional-linguistica-economica-social-genero atchim!