O Gil nos convidou, Drica e eu, pra palestrar na Intercon. O pedido foi para falar sobre o que não era óbvio. Para mim, o óbvio é a visão funcional que o 'mercado' tem da web. No entanto, meu trabalho tem sido sair desses padrões. Minha visão é experimental. E, nesse sentido, provoca mudanças e transformações.
O Marketing Hacker foi meu primeiro experimento. Um blog sobre hackers, conhecimento livre, manifesto cluetrain, catedral e bazar e outras indiscrições. Marketing Hacker se transformou no livro sobre a revolução do mercados. Personagens como David Weinberger, Chris Locke, Doc Searls, Howard Rheingold, Lessig, Pierre Levy e outras figurinhas eram comentados, reblogados (um neologismo que se inclina ao ato de retwittar) e, principalmente, 'Uma poderosa conversação global começou. Através da Internet, pessoas estão descobrindo e inventando novas maneiras de compartilhar rapidamente conhecimento relevante'. Essas idéias estavam sendo debatidas, remixadas e muitas vezes melhoradas (assim como no sofware livre). Por aqui, na taba do tupi, outras figuras estavam falando de coisas legais. Com esses figuras, Felipe Fonseca e eu, criamos o Metáfora. Um projeto independente, carregado de palavras como falar é fácil, o silêncio é fatal; Linkania, conectazes e esporos. Enfim, uma chocadeira colaborativa cuja proposta foi potencializar projetos colaborativos.
O MetaReciclagem é um dos espólios desse grupo. Metáfora sempre foi uma TAZ. Impermanente por natureza. O MetaReciclagem é uma articulação em rede que faz eco às propostas da apropriação da tecnologia social. É importante pensar que tecnologia social deve ser vista como processo, um movimento a partir da apropriação da tecnologia. Faz parte da consolidação da rede/sociedade. Numa ação crítica e na compreensão da apropriação de tecnologia como fenômeno social.
MetaReciclagem é conversação. Um movimento em rede que tem numa lista de discussão e num site em beta permanente os pontos de contatos entre os metarecicleiros. Simples assim. Ação distribuída. O MetaReciclagem começa em 2003. E, desde então, vem participando das diversas políticas públicas.
Foi nessa articulação que conheci a Drica Guzzi. Ela tem uma ação importantíssima nos projetos AcessaSP e AcessaEscola. Ela vai focar mais nisso na parte dela da apresentação daquilo que não é óbvio. Eu vou continuar nos devaneios de um hacker. Depois ela conta como se tornou uma metarecicleira.
O hacker é o artesão da tecnologia. Ocupa os espaços informacionais. Diminui as distâncias entre seres humanos. MetaReciclagem é hacker! Inclusão digital é o caminho lógico para esse grupo (tudo bem, eu também acho inclusão digital uma composição que não define o conceito). Não é a toa que no Brasil os projetos de colaboração se dão em primeiro lugar no ambito da interface comunidade / governo. É sobre esse jogo de força que a MetReciclagem, como proposta de ocupação de espaços, do reuso da tecnologia e da apropriação que começamos a atuar em algumas vertentes.
Para ocupar os espaços informacionais estamos nos valendo da ativação. Utilizando metodologias conhecidas como openspaces temos conseguindo simular as conversações nas capacitações e desta forma dar visibilidade as redes sociais.
A proposta de reuso da tecnologia foi a pegada do metareciclagem desde sua criação. Esse debate sobre reuso nos levou como grupo a criar o lixoeletronico.org. Um espaço para ampliar as vozes relacionadas ao descarte do lixo eletronico gerado pela sociedade que queremos cada vez mais conectada.
A apropriação tecnologica é objeto de das ações em oficinas. Mas é também a pegada que utilizamos nas ações de web. A idéia de que a web dos projetos que estamos envolvidos não está ensimesmada. A proposta é que seja um fluxo para alcançar a produção de subjetividades. No limite é o desvio.
O pensamento econômico tem colonizado as ciências humanas. Entretanto, quando entra a Internet como interface das relações humanas abriu espaços informacionais que atuam no modo de produção. Esse é o aspecto mais revolucionário do SL. Porque implica no que chamamos de trabalho imaterial. E, rompe de forma decisiva o amalgama do capitalismo tradicional. A colaboração, a generosidade e as conversações estão possibilitando novos enlaces.
Para toda essa teoria de redes chamamos de linkania. Mas isso já eh uma outra estória.