Aprendi a somar e subtrair na escola, usando desenhos assim:
A professora desenhava na lousa e perguntava: "o que essa máquina está fazendo"? E nós, depois de muita discussão e reflexão, concluíamos: está diminuindo uma laranja.
Existiam máquinas de todos os tipos: que somavam duas laranjas, que diminuíam cinco, que não somavam nem diminuiam. O importante, naquela época, era "descobrir" o que cada "máquina" estava fazendo, a partir do que entrava e do que saia.
O conceito de "caixa-preta", que o hd menciona em outro post, tem a ver com o processo de deixar de saber quais as operações que estão acontecendo "dentro" das máquinas: tudo o que conhecemos é o input e o output. O exemplo clássico de Flusser é a câmera fotográfica: o fotógrafo, na maioria das vezes não tem a menor idéia de todos os processos físicos e químicos que acontecem até que a imagem esteja "revelada".
Latour também fala de caixas-pretas, retomando o conceito desde a cibernética, onde ele é usado para representar mecanismos muito complexos cujo funcionamento interno não são relevantes para o cálculo final. São representados assim (também parecidos com minha máquina subtrair laranjas):
Latour não reflete apenas sobre coisas materiais, artefatos tecnológicos, mas principalmente sobre a própria Ciência e, portanto, muitas vezes sobre como é construído o "conhecimento oficial", que são, efetivamente, verdadeiras caixas-pretas.
Segundo ele, é importante investigar os processos de formação dessas chamadas "caixas-pretas" e como determinados conceitos são construídos, discutidos, como o seu sentido vai aos poucos se estabelecendo até, em determinado ponto, não importar mais quais as relações que estão dentro dele.
Se abrimos as caixas-pretas geradas pela Ciência, porém, o que vamos encontrar são inúmeros conflitos, interesses, construções de discurso. Poderemos perceber, por exemplo, que a solução que é comercializada não é necessariamente a "mais eficiente", mas na verdade o resultado de uma discussão sobre o que significa ser mais eficiente. É nesse sentido que além de serem discursos, essa Ciencia, e essa tecnologia, moldam e formam a maneira como nos relacionamos com o mundo.
E se esses conceitos e essas tecnologias são também parte do que somos (plataformas, interfaces), e com elas e outros humanos construímos redes, então existe também uma questão política envolvida na forma como esses objetos e esses conhecimentos foram construídos. Entender, abrir as caixas-pretas e perceber o que existe dentro, quais as transformações, quais os discursos. Isso é a chamada apropriação crítica: