Traduzindo trechos do artigo 45 revoluções por minuto, de Armin Medosch:
Utopia Sem Fio
A corrida econômica e tecnológica inspirou uma utopia sem fio na virada do último século. O inventor Nicolas Tesla sonhava em transmitir energia sem fios. Na imaginação popular da época, tecnologias de comunicação sem fio eram vistas juntando socialismo e democracia real. Apesar disso, foi Marconi quem criou o primeiro império de negócios sem fio, porque ele desenvolveu o telégrafo sem fio de acordo com a lógica da indústria. Ou seja, não como uma tecnologia de massas mas como uma aplicação industrial para apoiar linhas de distribuição mundiais e mercados de ações.
Nos Estados Unidos a tecnologia pioneira de rádio foi desenvolvida e experimentada por um grande número de radioamadores entre cerca de 1890 e 1920. Em quase todo o resto do mundo o espaço de rádio foi rapidamente controlado pelo estado e a experimentação limitada a alguns institutos oficiais. O espírito de garagem dos radioamadores norte-americanos precedeu a primeira onda de hackers de computadores e forneceu um modelo de inovação fora dos mecanismos do mercado. A Primeira Guerra e a ascenção do rádio comercial no anos 20 puseram um fim a esse espírito livre. Os anos 20 foram a época que viu a ascenção do bens de consumo elétricos. Receptores de rádio chegaram aos lares norte-americanos em uma onda junto com a geladeira e a máquina de lavar. As mesmas companhias que faziam eletrodomésticos também mantinham estações de rádio. O rádio tornou-se indispensável para o que Raymond Williams chama "privatização móvel". A crescente mobilidade das pessoas da classe operária vai lado a lado com a perda de identidade comunitária e cultura que o rádio consegue parcialmente restabelecer, mesmo que dentro do confinamento do espaço de convívio particular.