lendo http://desvio.cc/taxonomy/term/51/all pt-br Redes http://desvio.cc/blog/redes <p><img align="right" alt="" src="http://www.virtueelplatform.nl/en/media/content/2288_small.jpg" />Nos &uacute;ltimos dias tenho folheado de maneira descompromissada algumas publica&ccedil;&otilde;es que recebi recentemente da Holanda:&nbsp;<a href="http://networkcultures.org/wpmu/portal/publications/studies-in-network-cultures/organized-networks/">Organized Networks</a>, de Ned Rossiter; <a href="http://networkcultures.org/wpmu/wintercamp/2009/07/03/report/">From Weak Ties to Organised Networks</a>, publica&ccedil;&atilde;o p&oacute;s-Wintercamp (que j&aacute; comentei por cima <a href="http://desvio.weblab.tk/blog/acampamento-de-inverno">aqui</a>); e a caixa <a href="http://www.virtueelplatform.nl/en/#2653">e-culture</a>, uma caixa com um DVD, um folheto e tr&ecirc;s livros. N&atilde;o foi de prop&oacute;sito, mas isso me pegou no meio do planejamento e primeiras conversas relacionadas &agrave; aplica&ccedil;&atilde;o dos recursos do <a href="http://rede.metareciclagem.org/blog/17-06-09/Pr%C3%AAmio-de-M%C3%ADdia-Livre">Pr&ecirc;mio de M&iacute;dia Livre</a> que a <a href="http://rede.metareciclagem.org">MetaReciclagem</a> levou, e acabei estendendo alguns insights a essa busca mais pr&aacute;tica.</p> <p>Enquanto busca de identidade de rede, a MetaReciclagem j&aacute; passou por um monte de fases. Desde o come&ccedil;o como um subgrupo do projeto met&aacute;fora, passando pela dissolu&ccedil;&atilde;o influenciando grandes projetos de governo, at&eacute; a fase atual em que muitas vezes parece que a pot&ecirc;ncia de articula&ccedil;&atilde;o e colabora&ccedil;&atilde;o se esgotou, at&eacute; que aparece vida em um canto esquecido, at&eacute; que algu&eacute;m volta a se movimentar naquele espa&ccedil;o simb&oacute;lico depois de alguns anos em sil&ecirc;ncio, at&eacute; que os <em>olhares</em> e <em>afinidades</em> se reencontram em novas buscas. Acho que em todas essas fases, a &uacute;nica constante &eacute; a incerteza sobre o que vem a seguir. Da&iacute; que quando eu pego alguns desses estudos de matriz europeia, chega a me incomodar a sensa&ccedil;&atilde;o de que est&atilde;o tentando enquadrar uma classe de fen&ocirc;meno que n&atilde;o se presta muito a classifica&ccedil;&otilde;es e determina&ccedil;&otilde;es.</p> <p>Quando Rossiter sugere que &eacute; necess&aacute;rio que se criem <em>novas formas institucionais</em> que d&ecirc;em conta do tipo de intera&ccedil;&atilde;o que as redes tornam poss&iacute;vel, ele o faz baseado na perspectiva de uma sociedade que j&aacute; foi concreta e est&aacute;vel e que em determinado momento passou a se liquefazer, a perder os limites e as estruturas. Como se o agora fosse um momento intermedi&aacute;rio, em que se estabelecem as bases de uma sociedade que vai voltar a ser est&aacute;vel, segura e previs&iacute;vel (posso estar enganado, o livro dele &eacute; o que estou avan&ccedil;ando mais devagar).</p> <p>Essa vis&atilde;o influencia at&eacute; mesmo o tipo de questionamento que o Wintercamp fazia a todas as redes que reuniu. Compartilhei com outras pessoas a sensa&ccedil;&atilde;o de que as perguntas n&atilde;o se aplicavam &agrave;s pr&aacute;ticas que est&aacute;vamos debatendo no espa&ccedil;o da rede <a href="http://bricolabs.net">Bricolabs</a> (comentei um pouco mais sobre isso nos meus <a href="http://efeefe.no-ip.org/tag/wintercamp">posts sobre o evento</a>). Talvez seja necess&aacute;rio <em>relativizar</em> as perspectivas:&nbsp;em vez de partir de um mundo europeu ocidental que se caotizou, partir de um mundo mais amplo, que sempre foi inclassific&aacute;vel e inordenado, no qual por algum tempo e em algumas localidades espec&iacute;ficas existiu uma ilus&atilde;o de ordem.</p> <p>H&aacute; alguns dias, eu <a href="http://efeefe.no-ip.org/blog/f%C3%B4legos">bloguei</a> sobre alguns <em>contrastes</em> que senti em sampa depois de um fim de semana em Porto Alegre. Acho que faltou complementar a reflex&atilde;o com o que eu sinto aqui em Ubatuba. Casas t&eacute;rreas, ainda muita rua de terra, muita loja de material de constru&ccedil;&atilde;o, muita obra incompleta, muita terra pra vender. Mais do que uma urbaniza&ccedil;&atilde;o ainda n&atilde;o realizada, eu penso mais em termos de fronteira, de um limiar entre tipos diferentes de espa&ccedil;o, realidades potenciais que compartilham a coordenada geogr&aacute;fica. Como se ao atravessar a rua eu tamb&eacute;m estivesse atravessando o rio que poderia ainda existir ou a estrada ou ferrovia que poderia ter sido constru&iacute;da.</p> <p>Inverter a perspectiva do desenvolvimento &eacute; pensar que esse cen&aacute;rio de Ubatuba &eacute; t&atilde;o <em>contempor&acirc;neo</em> quanto a <a href="http://pt.wikipedia.org/wiki/Potsdamer_Platz">Potsdamer Platz</a> em Berlim. Mais do que isso, faz parte de um cen&aacute;rio complexo em que o caos sonoro que escuto no quarteir&atilde;o nesse exato momento - jazz, rock, igreja evang&eacute;lica, funk carioca, todos no volume m&aacute;ximo, coexiste com a frieza pretensiosa da Avenida Paulista, que fica a menos de 250km daqui.</p> <p>Como essas coisas se relacionam daqui para a frente, &eacute; uma coisa interessante a se pensar. Mas acho que estar nesse ambiente diverso contribui bastante para a compreens&atilde;o de rede que a gente acaba adotando aqui no Brasil. Outra coisa que eu depreendo de alguns desses textos de fora &eacute; a no&ccedil;&atilde;o de que a rede &eacute; uma coisa que n&atilde;o faz parte da vida cotidiana:&nbsp;as pessoas t&ecirc;m seu trabalho, sua fam&iacute;lia, seus amigos, e al&eacute;m de tudo isso - em uma dimens&atilde;o <em>paralela</em> - participam de redes. &Eacute; uma vis&atilde;o que sempre me pareceu equivocada, mas talvez nisso eu revele minha pr&oacute;pria perspectiva:&nbsp;de que redes sempre fizeram parte da exist&ecirc;ncia humana e do cotidiano.</p> <p>Em outras palavras, acho que eu estou mais uma vez afirmando que um mundo sem redes, se &eacute; que existiu, foi uma <em>distor&ccedil;&atilde;o</em> espec&iacute;fica de uma &eacute;poca e de alguns locais, talvez daqueles contextos que quiseram acreditar que as institui&ccedil;&otilde;es democr&aacute;ticas vinham para eliminar de uma vez por todas com a necessidade de arranjos informais diretos entre as pessoas, quase como uma objetiva&ccedil;&atilde;o da da vida em sociedade:&nbsp;voc&ecirc; n&atilde;o precisa desenvolver a habilidade de se relacionar em redes, porque as institui&ccedil;&otilde;es v&atilde;o te oferecer ferramentas estatisticamente comprovadas para isso. Se n&atilde;o faz sentido em democracias estabelecidas (j&aacute; hoje, figuras que eram democratas efusivas questionam se a representatividade estat&iacute;stica ainda vale em tempos de grande imigra&ccedil;&atilde;o para os pa&iacute;ses ricos), me parece que faz menos sentido ainda em democracias vacilantes como a nossa (algu&eacute;m acredita em voto obrigat&oacute;rio?).</p> <p>Nisso tudo, acabo caindo de novo na imagem do poder <em>para-constituido</em>, que comentei uma vez em uma <a href="http://www.mail-archive.com/metarec@colab.info/msg17855.html">mensagem</a> na <a href="http://lista.metareciclagem.org">lista de discuss&atilde;o</a> da MetaReciclagem:&nbsp;em vez de pensar que as redes s&atilde;o um cen&aacute;rio pr&eacute;-constitu&iacute;do e as organiza&ccedil;&otilde;es um cen&aacute;rio p&oacute;s-constitu&iacute;do (caso em que a constitui&ccedil;&atilde;o de uma organiza&ccedil;&atilde;o seria um divisor de &aacute;guas), &eacute; melhor pensar na coexist&ecirc;ncia, em rede, de atores que est&atilde;o constitu&iacute;dos com cen&aacute;rios que n&atilde;o se constituem (e nem pretendem se constituir).</p> <p>J&aacute; passamos o s&eacute;culo XX, a era da ind&uacute;stria e das marcas, em que as coisas eram classificadas e rotuladas de maneira vis&iacute;vel e consistente. Se o mundo do dinheiro j&aacute; entendeu isso, n&atilde;o podemos perder tempo (n&oacute;s que acreditamos em outrxs deusxs al&eacute;m da nota de cem) com o atrito causado pela tentativa de usar regras antigas de conviv&ecirc;ncia entre multiplicidades pessoais, identidades coletivas e as limita&ccedil;&otilde;es burocr&aacute;ticas.</p> <p>Gosto de pensar que a MetaReciclagem, de alguma forma, e com toda a dispers&atilde;o que tem, oferece um exemplo (mas nenhuma <em>f&oacute;rmula</em>)&nbsp;desse tipo de conv&iacute;vio complexo, tenso, mas em &uacute;ltima inst&acirc;ncia ainda produtivo e feliz. Talvez uma das bases seja justamente que as pessoas s&oacute; colaboram se quiserem:&nbsp;n&atilde;o existe coer&ccedil;&atilde;o, e at&eacute; por conta da dist&acirc;ncia a press&atilde;o que se pode exercer sobre as decis&otilde;es nas pontas &eacute; menor do que seria em um contexto mais estruturado.</p> <p>Essa quest&atilde;o da <em>permeabilidade</em> da rede tamb&eacute;m foi uma refer&ecirc;ncia interessante de um dos textos da caixa e-culture (que falei l&aacute; no comecinho desse post que t&aacute; saindo mais longo do que eu imaginava), relacionando a id&eacute;ia de walled garden (jardim cercado) com o conv&iacute;vio em rede. Juntando esse tipo de reflex&atilde;o com a necessidade concreta de definir caminhos para o desenvolvimento do site, mandei uma <a href="http://rede.metareciclagem.org/blog/12-08-09/Jardins-e-infral%C3%B3gica-metarecicleira">mensagem</a> pra lista articulando essas refer&ecirc;ncias com algumas id&eacute;ias do Bauman que andavam circulando por l&aacute;, tratando das figuras do ca&ccedil;ador e do jardineiro.</p> <p>Jardinagem foi um termo que a gente adotou dos wikis e acabou usando bastante ao longo desses anos, mas talvez seja hora de misturar com a perspectiva da permacultura, que em ess&ecirc;ncia tem mais a ver com o ide&aacute;rio da MetaReciclagem: reuso, apropria&ccedil;&atilde;o, inven&ccedil;&atilde;o com os elementos que est&atilde;o &agrave; m&atilde;o, etc. H&aacute; algumas semanas fui visitar aqui em Ubatuba o <a href="http://www.ipemabrasil.org.br/">IPEMA</a>, e por mais que eu j&aacute; conhecesse grande parte das coisas que eles fizeram por ali, &eacute; sempre bom ver que aquela conversa de estimular um tipo de sensibilidade que fa&ccedil;a as pessoas trocarem o <em>comprar</em> pelo <em>fazer,</em> de prefer&ecirc;ncia com materiais reaproveitados, tamb&eacute;m ecoa em outras &aacute;reas do conhecimento.</p> http://desvio.cc/blog/redes#comments desenvolvimento lendo metareciclagem redes urbe wintercamp Fri, 14 Aug 2009 00:54:55 +0000 efeefe 44 at http://desvio.cc