metareciclagem http://desvio.cc/taxonomy/term/24/all pt-br Cultura do conserto http://desvio.cc/blog/cultura-do-conserto <p>Publiquei nesta semana uma vers&atilde;o r&aacute;pida (somente com o texto-base em ingl&ecirc;s e sem imagens) da compila&ccedil;&atilde;o que estou montando sobre meu per&iacute;odo como residente na VCUQatar ano passado. O material j&aacute; publicado est&aacute; dispon&iacute;vel em vers&atilde;o para o kindle (<a href="http://www.amazon.com/dp/B00UEYBSRG">bem baratinho</a>, leva a&iacute;) ou livre e gr&aacute;tis no <a href="http://efeefe.no-ip.org/livro/repair-culture/">meu site</a>. Aproveitei para tamb&eacute;m fazer minha primeira experi&ecirc;ncia com o medium e publiquei l&aacute; um <a href="https://medium.com/@felipefonseca/repair-culture-65133fdd37ef">trecho do texto principal</a>.</p> http://desvio.cc/blog/cultura-do-conserto#comments cultura do conserto Doha fablabs fabricação digital maker culture metareciclagem mutgamb qatar repair culture VCU vcuq Tue, 10 Mar 2015 22:29:09 +0000 efeefe 240 at http://desvio.cc Fabricação, conserto e "porque dá" http://desvio.cc/blog/fabricacao-conserto-e-porque-da <p>Raquel Renn&oacute; mandou pela <a href="https://www.facebook.com/raquel.renno1/posts/10152349315779856">rede social do capeta</a> um bom artigo no Medium com o t&iacute;tulo &quot;<a href="https://medium.com/re-form/just-because-you-can-doesnt-mean-you-should-252fdbcf76c8">Yes we can. But should we?</a>&quot;, que levanta uma vis&atilde;o um pouco mais cr&iacute;tica pra toda a coisa da &quot;cultura maker&quot;. Traduzindo livremente um trecho:</p> <blockquote> <p>Parece haver uma confus&atilde;o conceitual sobre o que a impress&atilde;o 3D possibilita ou n&atilde;o. Ela nos permite encantar uma crian&ccedil;a de quatro anos criando praticamente do nada um mini Darth Vader? Sim, permite. Mas o objeto n&atilde;o se materializa do nada. Uma impressora 3D consome de cinquenta a cem vezes mais energia el&eacute;trica para fazer um objeto do que o processo de inje&ccedil;&atilde;o de pl&aacute;stico moldado. Al&eacute;m disso, as emiss&otilde;es de uma impressora 3D de mesa s&atilde;o similares a queimar um cigarro ou cozinhar em um fog&atilde;o a g&aacute;s ou el&eacute;trico. E o material escolhido para todas essas novas coisas que estamos clamando por fazer &eacute; esmagadoramente o pl&aacute;stico. De certo modo, &eacute; um deslocamento ambiental para o lado inverso, contrapondo-se a leis recentes para reduzir o uso de pl&aacute;stico que banem sacolas pl&aacute;sticas e estimulam a reformula&ccedil;&atilde;o de embalagens. Ao mesmo tempo em que mais pessoas levam sacolas de tecido para o supermercado, o pl&aacute;stico se acumula em outros campos, da Techshop &agrave; Target.</p> </blockquote> <p>De fato, a moda corrente da tal &quot;cultura maker&quot; exibe algumas caracter&iacute;sticas dignas de questionamento. Uma delas &eacute; justamente essa orienta&ccedil;&atilde;o ao &quot;make&quot;, que cristaliza com vocabul&aacute;rio o h&aacute;bito de &quot;fazer&quot; coisas, mas &eacute; usualmente interpretado simplesmente como &quot;fabricar novas coisas&quot;. N&atilde;o que a cultura maker tenha sido assim desde o in&iacute;cio. Ainda acho que existia um romantismo nos primeiros tempos (bem capturado no <a href="http://desvio.cc/blog/fazedorxs">Makers</a> de Cory Doctorow), em que a &ecirc;nfase vinha de fazer as coisas com as m&atilde;os, experimentar, desviar usos, aproveitar ao m&aacute;ximo os recursos &agrave; volta. Um esp&iacute;rito que por esses lados a gente aproxima da gambiarra (aqui um monte de <a href="http://desvio.cc/tag/gambiologia">posts</a> e <a href="http://links.metareciclagem.org/tags.php/gambiologia">links</a> sobre &quot;gambiologia&quot;, que tamb&eacute;m &eacute; o nome do <a href="http://gambiologia.net">coletivo mineiro</a>).</p> <p>Mas daquilo que inicialmente surgia como postura cr&iacute;tica ao consumismo exacerbado, a assim chamada cultura maker hoje parece ter virado somente mais um produtinho na grande prateleira das ideias prontas para vender no capitalismo hiperconectado. A&iacute; um monte de gente com seus Macbooks se junta para comprar <a href="http://makerbot.com/">Makerbots</a> e ficar brincando de inventar o novo produto que vai estourar nos mercados. E no meio do caminho jogam fora um monte de pl&aacute;stico derretido para prototipar o melhor suporte de ipad do mundo.</p> <p>Nem vou falar de novo sobre o desperd&iacute;cio de oportunidades quando os talentos voltam-se somente ao mercado. J&aacute; falei isso <a href="http://efeefe.no-ip.org/livro/lpd/inovacao-tecnologias-livres-2">em 2011</a>, e n&atilde;o vi muita coisa mudar desde ent&atilde;o:</p> <blockquote> <p>Hoje em dia, jovens de cidades pequenas que t&ecirc;m potencial precisam <em>migrar para grandes centros</em> em busca de oportunidades. &Eacute; raro que voltem, o que leva a uma esp&eacute;cie de <em>&ecirc;xodo criativo</em>. Mesmo aqueles que chegam &agrave;s cidades grandes tamb&eacute;m precisam fazer uma escolha dif&iacute;cil: podem <em>vender seu talento criativo ao mercado</em> - por vezes de maneira equilibrada, mas em muitos casos limitando-se a ajudar quem tem dinheiro a ganhar mais dinheiro; ou ent&atilde;o trocar seu futuro por capital especulativo. Podem tamb&eacute;m tentar usar suas habilidades para ajudar a sociedade - mas para isso precisam conviver com precariedade e instabilidade. Essa &eacute; uma <em>condi&ccedil;&atilde;o insustent&aacute;vel</em> para um pa&iacute;s que tanto precisa de inova&ccedil;&atilde;o e criatividade. Por que raz&atilde;o uma pessoa jovem, criativa, talentosa e consciente n&atilde;o encontra maneiras vi&aacute;veis de usar essas qualidades para ajudar a sociedade? Alguma coisa est&aacute; errada. E n&atilde;o me interessa que isso seja verdade no mundo inteiro. Estamos em uma &eacute;poca de transforma&ccedil;&otilde;es e de expectativas altas.</p> </blockquote> <p>Mas al&eacute;m desse v&iacute;cio no mercado e no vocabul&aacute;rio da ind&uacute;stria (fabrica&ccedil;&atilde;o, prot&oacute;tipos, e de carona v&ecirc;m junto o p&uacute;blico-alvo, a guerrilha e todas aquelas deprimentes met&aacute;foras b&eacute;licas), essas iniciativas passam longe de qualquer preocupa&ccedil;&atilde;o com sustentabilidade. E olha que j&aacute; existem constru&ccedil;&otilde;es conceituais muito interessantes no m&iacute;nimo para refletir, como o <a href="http://www.cradletocradle.com/">cradle to cradle</a> (que por mais inexequ&iacute;vel que seja oferece ao menos bons argumentos para refletir sobre as finalidades dos esfor&ccedil;os criativos). E a impress&atilde;o que tenho aqui no Brasil &eacute; que se est&aacute; jogando fora a gambiarra (que &eacute; nossa, tropicalizada, prec&aacute;ria e adapt&aacute;vel) por uma imagem idealizada de cultura maker limpinha dos labs do primeiro mundo. Sendo que a gambiarra parece ter muito mais pot&ecirc;ncia do que a linguagem dos prot&oacute;tipos industriais, como <a href="http://medialab-prado.es/article/gambiarra">sugeriu o Gabriel Menotti</a>. Aqui um <a href="http://redelabs.org/livro/labs-no-mundo">trecho da minha disserta&ccedil;&atilde;o</a> sobre isso:</p> <blockquote> <p>Para o pesquisador brasileiro Gabriel Menotti (MENOTTI, 2010), o prot&oacute;tipo &eacute; um objeto cr&iacute;tico de sua pr&oacute;pria fun&ccedil;&atilde;o. Em outras palavras, o prot&oacute;tipo s&oacute; existiria enquanto etapa anterior &agrave; concretiza&ccedil;&atilde;o da vers&atilde;o definitiva de um produto. Entretanto, &agrave; medida em que a topologia da fabrica&ccedil;&atilde;o se modifica - como parece ser o caso com a cultura maker - a utiliza&ccedil;&atilde;o da ideia de prot&oacute;tipo induziria a um prematuro encerramento de possibilidades dos objetos, com a nega&ccedil;&atilde;o de seus diversos usos potenciais. Afirmar um objeto como prot&oacute;tipo implica assumir que ele tem uma exist&ecirc;ncia funcional definida de antem&atilde;o. Menotti sugere a necessidade de pensar outras defini&ccedil;&otilde;es para os objetos resultantes da criatividade aplicada &agrave;s novas tecnologias de fabrica&ccedil;&atilde;o digital. Para ele a gambiarra, ao contr&aacute;rio do prot&oacute;tipo, caracterizaria o objeto improvisado cuja individua&ccedil;&atilde;o &eacute; realizada pelo pr&oacute;prio usu&aacute;rio, possivelmente mais adequada a tempos p&oacute;s-industriais. No limite, a perspectiva da gambiarra estimula uma maior diversidade de maneiras de apropria&ccedil;&atilde;o e inven&ccedil;&atilde;o, a partir da explora&ccedil;&atilde;o de indetermina&ccedil;&otilde;es materiais. Em outras palavras, aumentam-se as possibilidades criativas &agrave; medida em que se recusa o encerramento e delimita&ccedil;&atilde;o das fun&ccedil;&otilde;es poss&iacute;veis para determinado objeto ou conjunto de objetos. Mais do que replicar em escala local os processos industriais, &eacute; poss&iacute;vel pensar em outras formas de relacionamento com as tecnologias digitais de confec&ccedil;&atilde;o e transforma&ccedil;&atilde;o de objetos. Focar no conserto em vez da fabrica&ccedil;&atilde;o pode ser uma via potente de inven&ccedil;&atilde;o e resist&ecirc;ncia.</p> </blockquote> <p>E para continuar na viagem egoc&ecirc;ntrica (como j&aacute; fui categorizado por um mala por a&iacute;), mais um trecho da disserta&ccedil;&atilde;o:</p> <blockquote> <p>De fato, em uma &eacute;poca na qual a humanidade produz quantidades imensas e crescentes de lixo cuja propor&ccedil;&atilde;o potencial de reciclagem pode no m&aacute;ximo manter-se est&aacute;vel, a mera sugest&atilde;o de multiplicarem-se os meios de fabrica&ccedil;&atilde;o de novos objetos deveria ser profundamente questionada. A alternativa, utilizar as tecnologias de fabrica&ccedil;&atilde;o para produzirem-se pe&ccedil;as que possibilitem a reutiliza&ccedil;&atilde;o de materiais, equipamentos e objetos, n&atilde;o encontra tanta repercuss&atilde;o na m&iacute;dia de tecnologia (e ainda menos, como &eacute; de se esperar, na de neg&oacute;cios).</p> <p>Sintomaticamente, <a href="http://refab-space.org/">James Wallbank</a> afirma que a impressora 3D &eacute; o mais complexo e menos &uacute;til dos equipamentos que tipicamente constituem um lab de fabrica&ccedil;&atilde;o. Em suas vers&otilde;es acess&iacute;veis, ela tem baixa resolu&ccedil;&atilde;o - resultando em objetos com apar&ecirc;ncia de inacabados, bruto. Os objetos produzidos raramente s&atilde;o recicl&aacute;veis. E a gera&ccedil;&atilde;o de arquivos para produzir objetos com elas exige o dom&iacute;nio de mais conhecimento abstrato e softwares espec&iacute;ficos. Ainda assim, Wallbank sugere que a impressora 3D fala ao imagin&aacute;rio e aos desejos de futuro de camadas maiores da popula&ccedil;&atilde;o. Para ele, entretanto, a cortadora laser &eacute; um dos equipamentos com maior potencial de gerar inova&ccedil;&atilde;o concreta, uma vez que j&aacute; pode entregar produtos acabados ou semiacabados. Costuma contar o caso de um designer gr&aacute;fico desempregado que frequentava o ReFab Space e projetou um modelo de caixa para o minicomputador Raspberry Pi. Com o n&uacute;mero de encomendas recebidas, ele montou uma oficina com algumas cortadoras laser, que utiliza para fabricar as caixas. J&aacute; teria contratado tr&ecirc;s pessoas para trabalhar com ele.</p> <p>No Brasil, os Fablabs ainda est&atilde;o limitados em grande medida ao &acirc;mbito acad&ecirc;mico. Alguns hackerspaces t&ecirc;m suas impressoras 3D, mas via de regra est&atilde;o ali por enquanto mais como curiosidades do que instrumentos de produ&ccedil;&atilde;o. &Eacute; digno de nota, por outro lado, que alguns dos equipamentos listados nas recomenda&ccedil;&otilde;es para Fablabs, como cortadoras de vinil adesivo e m&aacute;quinas de bordar, estejam (h&aacute; tempos) presentes em empresas de sinaliza&ccedil;&atilde;o e faixas em qualquer periferia urbana, quiosques de shopping centers e afins. &Eacute; poss&iacute;vel imaginar que os laborat&oacute;rios de fabrica&ccedil;&atilde;o teriam maior potencial transformador quando associados a projetos de inclus&atilde;o social atrav&eacute;s do empreendedorismo - incorporando a penetra&ccedil;&atilde;o j&aacute; existente dessas tecnologias, naturalizando a gambiarra como objeto inovador em si mesmo e valorizando a inventividade cotidiana. Contudo, ainda s&atilde;o raros os projetos que se arriscam nessa seara.</p> </blockquote> <p>E para encerrar o festival de autocita&ccedil;&otilde;es, uma nota de rodap&eacute; sobre as impressoras 3D:</p> <blockquote> <p>A pr&oacute;pria nomenclatura utilizada para denomin&aacute;-la[s] indica um foco primordial em caracter&iacute;sticas t&eacute;cnicas - a impressora 3D se diferencia das impressoras de papel, que produziriam (&quot;somente&quot;) em duas dimens&otilde;es. Pode-se tentar uma interpreta&ccedil;&atilde;o alternativa, segundo a qual a impressora 3D permite &quot;dar sa&iacute;da&quot; a arquivos gerados em softwares de modelagem tridimensionais, mas isso &eacute; jogar a mesma limita&ccedil;&atilde;o conceitual para o software. Outros nomes, como &quot;m&aacute;quinas de prototipagem r&aacute;pida&quot;, como discuti acima, tamb&eacute;m carregam muito mais do que se costuma refletir - por que precisar&iacute;amos pensar que elas s&oacute; se prestam a prot&oacute;tipos? Uma solu&ccedil;&atilde;o poss&iacute;vel seria deixar de lado a dicotomia improdutiva entre duas ou tr&ecirc;s dimens&otilde;es e cham&aacute;-las de &quot;impressoras de coisas&quot; ou &quot;fabricadoras de coisas&quot;. Afinal, em um Makerspace s&atilde;o utilizadas lado a lado ferramentas bidimensionais e tridimensionais.</p> </blockquote> <p>Enfim, algumas inquieta&ccedil;&otilde;es que j&aacute; estavam latentes mas o artigo recomendado pela Raquel fez despertar de novo. Daqui a dois meses darei um curso sobre gambiarra e &quot;repair culture&quot; e pretendo retomar algumas dessas reflex&otilde;es. Por enquanto, o &uacute;nico coment&aacute;rio: gambiarra vale muito mais do que a maker culture. E daqui a cinco anos, quando a moda passar, a gambiarra vai continuar necess&aacute;ria. Espero que n&atilde;o tenha sido deixada de lado pelos ventos do hype.</p> http://desvio.cc/blog/fabricacao-conserto-e-porque-da#comments cultura maker fabricação gambiarra gambiologia metareciclagem refab space Fri, 19 Sep 2014 23:28:10 +0000 efeefe 234 at http://desvio.cc Fablab DIY http://desvio.cc/blog/fablab-diy <p>Da <a href="http://refab-space.org/w/doku.php?id=strategy:introduction">p&aacute;gina de estrat&eacute;gias do Refab-Space</a> de James Wallbank em Sheffield, uma conclus&atilde;o &agrave; qual tamb&eacute;m chegamos quase uma d&eacute;cada atr&aacute;s na <a href="http://rede.metareciclagem.org">MetaReciclagem</a>:</p> <blockquote> <p>Imagine building your own TV; it&#39;d be fun and informative, make you aware of what you&#39;re buying, and what goes into it. Now imagine building 1000 TVs a week; is that 1000 times more fun? Of course not, it&#39;s a repetitive, mind-numbing job.</p> </blockquote> <p>&Eacute; por isso que montar uma &quot;f&aacute;brica&quot; de recondicionamento de <a href="http://lixoeletronico.org">lixo eletr&ocirc;nico</a> sempre me pareceu entediante.</p> http://desvio.cc/blog/fablab-diy#comments access space aliadxs fablabs fabricação james wallbank lixo eletrônico low tech metareciclagem refab space Sun, 20 Jan 2013 15:30:24 +0000 efeefe 228 at http://desvio.cc Os Mendi e a gambiologia http://desvio.cc/blog/os-mendi-e-gambiologia <p>Tra&ccedil;os de Gambiologia em Sahlins: &quot;<a href="http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&amp;pid=S0104-93131997000100002">O &#39;pessimismo sentimental&#39; e a experi&ecirc;ncia etnogr&aacute;fica: por que a cultura n&atilde;o &eacute; um &#39;objeto&#39; em via de extin&ccedil;&atilde;o</a>&quot;.</p> <blockquote> <p>Os Mendi fazem at&eacute; j&oacute;ias a partir do lixo europeu. Quando Lederman e seu marido, Mike Merrill, iniciaram seu projeto de pesquisa, eles - compreende-se bem por qu&ecirc; - lamentaram a indig&ecirc;ncia dos Mendi, ao inv&eacute;s de saudar sua criatividade. Que outra conclus&atilde;o se poderia tirar de um povo que fabricava pulseiras a partir de latas de conserva e chap&eacute;us a partir de embalagens de p&atilde;o? De gente que, ap&oacute;s haver passado toda a sua vida descal&ccedil;a, agora andava com galochas largu&iacute;ssimas, ou &agrave;s vezes com um p&eacute; s&oacute; de uma galocha rasgada? De um povo que comprava r&aacute;dios caros que, entretanto, logo quebravam e n&atilde;o tinham como ser consertados? Merrill, um especialista em hist&oacute;ria do trabalho, concluiu que, embora essa apropria&ccedil;&atilde;o do refugo da &quot;civiliza&ccedil;&atilde;o&quot; n&atilde;o possu&iacute;sse nenhum significado funcional, ela devia significar algo &frac34; provavelmente um sentimento de priva&ccedil;&atilde;o afrontosa. &quot;Um p&eacute; de sapato&quot;, escreveu ele em seu di&aacute;rio, &quot;n&atilde;o tem utilidade, e provavelmente at&eacute; dificulta o andar (sobretudo se est&aacute; sem o salto... ). Mas um p&eacute; de sapato significa alguma coisa. Significa um desejo, por parte do dono, de ter um <i>par</i> de sapatos; e de ter n&atilde;o apenas sapatos, mas tudo o mais tamb&eacute;m&quot; (Lederman 1986a:7). Eis que, por falta de um p&eacute; de sapato, a cultura se perdeu. Utilizando uma antropologia do <i>ancien r&eacute;gime</i>, a velha l&oacute;gica funcionalista da correspond&ecirc;ncia necess&aacute;ria entre um tipo de tecnologia e a totalidade cultural, os etn&oacute;grafos se convenceram inicialmente de que os desejos dos Mendi por objetos estrangeiros iriam necessariamente atrel&aacute;-los aos significados e rela&ccedil;&otilde;es portados por essas mercadorias, a ponto de comprometer suas formas tradicionais de exist&ecirc;ncia:</p> <blockquote> <p>&quot;Pois machados de a&ccedil;o, tecidos industrializados, carros, servi&ccedil;os de mesa, arroz e peixe enlatado, pregos etc. n&atilde;o s&atilde;o objetos neutros [...]. Quando penetram na &aacute;rea, carregam de maneira vis&iacute;vel e influente suas origens sociais [...]. Os valores do mercado mundial acabam necessariamente predominando [...]. Ao fim e ao cabo, a estrutura social tradicional ser&aacute; erodida pela a&ccedil;&atilde;o corrosiva dos artigos que agora s&atilde;o usados de modo tradicional, mas que j&aacute; cont&ecirc;m dentro de si outras e mais poderosas inten&ccedil;&otilde;es&quot; (Lederman 1986a:7).</p> </blockquote> <p>N&atilde;o obstante, at&eacute; o in&iacute;cio dos anos 80, ap&oacute;s toda uma gera&ccedil;&atilde;o de experi&ecirc;ncia com o governo colonial e p&oacute;s-colonial, e ap&oacute;s uma experi&ecirc;ncia consider&aacute;vel com o mercado atrav&eacute;s da venda tanto de produtos como de m&atilde;o-de-obra, tal eros&atilde;o ainda n&atilde;o havia acontecido. Nem as mercadorias nem as rela&ccedil;&otilde;es envolvidas em sua aquisi&ccedil;&atilde;o haviam transformado as estruturas mendi de sociabilidade ou suas concep&ccedil;&otilde;es de uma exist&ecirc;ncia humana adequada &frac34; <i>a n&atilde;o ser no sentido de as intensificar</i>. Abastecidos de uma maior riqueza em dinheiro, conchas de madrep&eacute;rola, porcos e bens estrangeiros, os cerimoniais cl&acirc;nicos e as trocas entre parentes atingiram dimens&otilde;es in&eacute;ditas, tanto em termos de escala como de freq&uuml;&ecirc;ncia (Lederman 1985; 1986b:153). Os Mendi possuem agora cerim&ocirc;nias maiores e mais parentes do que jamais tiveram. Lederman observou que as rela&ccedil;&otilde;es sociais ind&iacute;genas haviam gerado uma demanda de moeda moderna bem maior que aquela exigida pelas inst&acirc;ncias locais do mercado capitalista (1986b:232). Refletindo acerca da disposi&ccedil;&atilde;o dos brancos para o consumo privado, um amigo Mendi caracterizou a economia europ&eacute;ia como um &quot;sistema de subsist&ecirc;ncia&quot;, em contraposi&ccedil;&atilde;o ao interesse de seu pr&oacute;prio povo em dar e receber, e que seria, este sim, um verdadeiro sistema de trocas (1986b:236). Por essa n&atilde;o se esperava...<sup><a name="top13"></a><a href="http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&amp;pid=S0104-93131997000100002#back13">13</a></sup></p> <p>Os Mendi, escreve Lederman, interagiam com os estrangeiros &quot;sem perder o sentido de si mesmos&quot; (1986b:9). O sistema cultural local &quot;ainda &eacute; a estrutura dentro da qual os Mendi definem, categorizam e orquestram os novos objetos e modos de agir que lhes foram apresentados durante a &uacute;ltima gera&ccedil;&atilde;o&quot; (1986b:227). Mas observe-se que invocar desse modo uma estrutura ou l&oacute;gica culturais, como sendo aquilo que orquestra a transforma&ccedil;&atilde;o hist&oacute;rica, n&atilde;o &eacute; o mesmo que falar de uma reprodu&ccedil;&atilde;o estereotipada do costume tradicional<i>. A tradi&ccedil;&atilde;o consiste aqui nos modos distintos como se d&aacute; a transforma&ccedil;&atilde;o</i>: a transforma&ccedil;&atilde;o &eacute; necessariamente adaptada ao esquema cultural existente. Nas terras altas da Nova Guin&eacute;, isso pode significar um desenvolvimento da competi&ccedil;&atilde;o cerimonial intercl&acirc;nica, ocorrendo concomitantemente ao decl&iacute;nio da guerra. Mas a competi&ccedil;&atilde;o pode se manifestar tamb&eacute;m em projetos de constru&ccedil;&atilde;o de igrejas (1986b:230)<sup><a name="top14"></a><a href="http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&amp;pid=S0104-93131997000100002#back14">14</a></sup>.</p> </blockquote> <p>&nbsp;</p> http://desvio.cc/blog/os-mendi-e-gambiologia#comments antropologia gambiologia mdcc metareciclagem Thu, 19 Apr 2012 21:15:06 +0000 efeefe 223 at http://desvio.cc Apropriação crítica http://desvio.cc/blog/apropriacao-critica <h1> Apropria&ccedil;&atilde;o cr&iacute;tica</h1> <h2> Industrializa&ccedil;&atilde;o e distanciamento</h2> <p>As &uacute;ltimas centenas de anos presenciaram profundas mudan&ccedil;as na maneira como produzimos coisas. At&eacute; meados do s&eacute;culo XIX, os bens eram manufaturados por artes&atilde;os. Roupas, m&oacute;veis, utens&iacute;lios dom&eacute;sticos, objetos decorativos, medicamentos, armas, ferramentas, instrumentos cient&iacute;ficos &ndash; praticamente tudo era feito &agrave; m&atilde;o, e quase sempre vendido localmente. Sucessivas inova&ccedil;&otilde;es na fabrica&ccedil;&atilde;o de objetos, transforma&ccedil;&otilde;es nas formas como as sociedades se organizavam, a cria&ccedil;&atilde;o de novos meios de transporte e o acesso a imensas fontes de mat&eacute;rias-primas e outros recursos naturais nas col&ocirc;nias alavancaram a chamada <em>revolu&ccedil;&atilde;o</em> <em>industrial,</em> a partir da Europa e em dire&ccedil;&atilde;o ao resto do mundo.<br /> Atrav&eacute;s da mecaniza&ccedil;&atilde;o e da produ&ccedil;&atilde;o em s&eacute;rie, a produtividade aumentou exponencialmente. Bens que anteriormente s&oacute; estavam dispon&iacute;veis &agrave;s elites puderam ser oferecidos a todos, passando a ser considerados necessidades b&aacute;sicas. A qualidade de vida de uma consider&aacute;vel parcela da popula&ccedil;&atilde;o aumentou, em um ritmo sem precedentes.</p> <p>Isso tudo potencializou outras transforma&ccedil;&otilde;es. Ganhou espa&ccedil;o crescente a democracia representativa (&ldquo;o pior sistema pol&iacute;tico, com exce&ccedil;&atilde;o de todos os outros que foram tentados&rdquo;, segundo Churchill). Formaram-se as <a href="http://ubalab.org/blog/metareciclando-cidades-digitais">cidades contempor&acirc;neas</a>, ambiente prop&iacute;cio para a atividade industrial: uma maior concentra&ccedil;&atilde;o urbana oferece m&atilde;o de obra a custo baixo e mercados din&acirc;micos para escoar a produ&ccedil;&atilde;o. A sociedade tornou-se mais complexa, suas rela&ccedil;&otilde;es mediadas por grandes organiza&ccedil;&otilde;es e institui&ccedil;&otilde;es. Uma entre as muitas consequ&ecirc;ncias dessas mudan&ccedil;as foi o gradual distanciamento entre produtores e consumidores. E &eacute; importante analisar essa divis&atilde;o.</p> <p>Antes da produ&ccedil;&atilde;o industrial, a fabrica&ccedil;&atilde;o era um processo manual e consciente. O artes&atilde;o dominava praticamente todas as etapas do tratamento e transforma&ccedil;&atilde;o de mat&eacute;rias-primas em produtos. O conhecimento sobre o processo fabril tinha muito valor, e era transmitido de gera&ccedil;&atilde;o em gera&ccedil;&atilde;o. Existia a possibilidade do contato pessoal entre quem fabricava alguma coisa e aqueles que a utilizavam. Por mais que o artes&atilde;o pudesse contestar interfer&ecirc;ncias em seu trabalho e negar-se a atender a pedidos, algum di&aacute;logo era sempre poss&iacute;vel. Por outro lado, ele tamb&eacute;m precisava saber usar aquilo que fabricava. Ou seja, deveria ser ele mesmo o mais exigente de seus usu&aacute;rios. Com o passar dos anos, o artes&atilde;o aplicado tornava-se mestre em seu of&iacute;cio, formando novas gera&ccedil;&otilde;es e incrementando o dom&iacute;nio t&eacute;cnico daquela &aacute;rea do conhecimento como um todo.</p> <p>O desenvolvimento da produ&ccedil;&atilde;o industrial teve fortes implica&ccedil;&otilde;es nesse contexto, &agrave; medida em que afastou a produ&ccedil;&atilde;o do consumo, ao ponto da desconex&atilde;o total. Criaram-se mundos totalmente separados. De um lado ficaram os oper&aacute;rios na ind&uacute;stria, os bra&ccedil;os respons&aacute;veis pela fabrica&ccedil;&atilde;o dos produtos. S&atilde;o at&eacute; hoje pessoas que em sua maioria conhecem apenas uma &iacute;nfima parte do processo de fabrica&ccedil;&atilde;o. Muitas vezes elas n&atilde;o utilizam os produtos que fabricam, e frequentemente nem saberiam como faz&ecirc;-lo. Repetidamente juntam uma pe&ccedil;a com a outra, apertam parafusos, empilham, verificam o resultado e tornam a repetir o processo, como o personagem de Chaplin em &ldquo;<a href="http://www.imdb.pt/title/tt0027977/">Tempos Modernos</a>&rdquo;. Por n&atilde;o terem uma vis&atilde;o geral do processo, essas pessoas necessitam de chefes que as orientem, disciplinem e controlem. J&aacute; esses chefes tornam-se por sua vez mais uma classe &agrave; parte, os gerentes. Respons&aacute;veis pela domestica&ccedil;&atilde;o da for&ccedil;a de trabalho, s&atilde;o em geral conservadores, bajuladores da elite e avessos a mudan&ccedil;as.</p> <p>J&aacute; na outra ponta da industrializa&ccedil;&atilde;o - o &ldquo;mercado consumidor&rdquo; - cada indiv&iacute;duo passou a ser visto muito mais como um comprador em potencial do que como sujeito social. Em vez do contato pessoal com os produtores, resignou-se &agrave; impessoalidade do marketing e dos setores de atendimento ao consumidor das grandes empresas. N&atilde;o sabe mais quem foram as pessoas que produziram aquilo que compra, e &eacute; levado a nem se interessar por isso.</p> <p>Nesse cen&aacute;rio, alguma coisa humana se perdeu. &Eacute; tristemente real a anedota da crian&ccedil;a que, perguntada sobre de onde vem o leite, responde que vem &ldquo;da caixinha&rdquo;. Mais triste ainda &eacute; perceber qu&atilde;o mais inconscientes ainda somos quando adultos. Essa ignor&acirc;ncia se estende para praticamente todos os produtos industrializados. &Eacute; raro o momento em que paramos para pensar como, onde e por quem s&atilde;o feitas as coisas que nos cercam, de onde vieram as mat&eacute;rias-primas que deram origem a essas coisas, ou mesmo se determinado produto funcionaria melhor se fosse feito de outra forma. Existe a ilus&atilde;o de que tudo &eacute; feito por m&aacute;quinas, de que o elemento humano n&atilde;o existe mais. E isso est&aacute; longe de ser verdade: todo produto tem em sua origem recursos naturais. Todo produto requer um esfor&ccedil;o criativo inicial seguido por sucessivas fases de trabalho manual, frequentemente realizado sob condi&ccedil;&otilde;es prec&aacute;rias. N&atilde;o percebemos, mas estamos sempre usando ou carregando objetos &ndash; roupas, aparelhos, m&oacute;veis, tudo &ndash; que embutem peda&ccedil;os do planeta, ideias e suor.</p> <h2> Obsolesc&ecirc;ncia programada</h2> <p>O andar da hist&oacute;ria amplificou ainda mais a tend&ecirc;ncia industrial ao distanciamento e &agrave; frieza na rela&ccedil;&atilde;o entre fabrica&ccedil;&atilde;o e uso. A era dos mercados de massa, impulsionada por novos meios de transporte e comunica&ccedil;&atilde;o, alcan&ccedil;aria n&iacute;veis sem precedentes de afastamento e distor&ccedil;&atilde;o.</p> <p>Como retratado no recente document&aacute;rio produzido pela TV espanhola &ldquo;<a href="http://lixoeletronico.org/blog/obsolescencia-programada">Comprar, tirar, comprar</a>&rdquo; (&ldquo;Comprar, jogar fora, comprar&rdquo;), em meados do s&eacute;culo XX representantes de grandes corpora&ccedil;&otilde;es industriais se reuniram secretamente para estabelecer que seus produtos deveriam durar <em>menos</em> tempo. Ou seja, frente &agrave; necessidade visceral das corpora&ccedil;&otilde;es continuarem crescendo ano ap&oacute;s ano, seus dirigentes simplesmente decidiram a portas fechadas que os consumidores teriam acesso a produtos menos dur&aacute;veis, que precisariam ser substitu&iacute;dos em prazos menores! O document&aacute;rio d&aacute; um exemplo emblem&aacute;tico: uma esta&ccedil;&atilde;o de bombeiros norte-americana onde se encontra uma l&acirc;mpada incandescente, que recentemente completou cem anos de idade, e ainda est&aacute; em funcionamento. Nos dias de hoje, as l&acirc;mpadas s&atilde;o deliberadamente fabricadas para durar um n&uacute;mero limitado de horas de uso. Ou seja, nenhuma l&acirc;mpada fabricada hoje vai durar cem anos. E isso n&atilde;o &eacute; coincid&ecirc;ncia: &eacute; &ldquo;planejamento estrat&eacute;gico&rdquo;, no jarg&atilde;o corporativo.</p> <p>O mesmo acontece com impressoras, meias-cal&ccedil;as, autom&oacute;veis, eletrodom&eacute;sticos e muitos outros produtos. Essa &eacute; uma tend&ecirc;ncia intencional, chamada de <em>obsolesc&ecirc;ncia</em> <em>programada</em>. Segundo essa perspectiva, qualquer produto s&oacute; vale alguma coisa para o fabricante at&eacute; o instante em que &eacute; vendido. A partir do momento que est&aacute; em posse do consumidor, quanto antes for descartado melhor. Em outras palavras, qualquer produto vendido j&aacute; &eacute; considerado lixo. Essa vis&atilde;o se perpetua nos dois lados do processo produtivo: tanto atrav&eacute;s dos gerentes que se sobrep&otilde;em &agrave; m&atilde;o de obra industrial, condicionando seu trabalho &agrave; continuada necessidade de aumentar o faturamento e a lucratividade, produzindo coisas que duram menos tempo; quanto nos departamentos de marketing, que se esfor&ccedil;am em condicionar o comportamento dos consumidores para que continuem comprando produtos novos, mesmo que n&atilde;o precisem deles. Existem setores da administra&ccedil;&atilde;o de empresas especializados em simular relacionamentos prolongados com seus clientes, que s&atilde;o vistos n&atilde;o mais como compradores de produtos (e menos ainda como pessoas), mas sim fontes de faturamento para toda a vida.</p> <p>&Eacute; importante perceber o peso desses mediadores. Um engenheiro competente e bem intencionado que queira desenhar um produto mais dur&aacute;vel ou que permita o reuso ser&aacute; provavelmente demovido por seus colegas e chefia. Se insistir, a empresa pode at&eacute; consider&aacute;-lo uma esp&eacute;cie de traidor, por conta de uma alegada necessidade de competir pelo desenvolvimento de produtos que durem menos e proporcionem maior lucro, a fim de &ldquo;n&atilde;o perder espa&ccedil;o para a concorr&ecirc;ncia&rdquo;. E o mais assustador &eacute; que nesses ambientes isso &eacute; tratado quase como uma verdade universal. As escolas de neg&oacute;cios fazem uma lavagem cerebral, repetindo frases feitas com o objetivo de desumanizar ainda mais a produ&ccedil;&atilde;o e comercializa&ccedil;&atilde;o de bens e servi&ccedil;os.</p> <p>Outro elemento importante a perceber: as empresas em geral se utilizam de linguagem b&eacute;lica para descrever suas atividades: &ldquo;p&uacute;blico-alvo&rdquo;, &ldquo;derrotar os oponentes&rdquo;, &ldquo;conquistar&rdquo;, &ldquo;dominar&rdquo;. N&atilde;o &eacute; por acaso. Guerra e com&eacute;rcio est&atilde;o conectados h&aacute; muito tempo. A produ&ccedil;&atilde;o industrial, e com ela o poder corporativo, est&aacute; ligada profundamente &agrave; manuten&ccedil;&atilde;o das estruturas de poder na sociedade. O premiado document&aacute;rio brit&acirc;nico &ldquo;<a href="http://www.imdb.pt/title/tt0432232/">M&aacute;quinas de Felicidade</a>&rdquo; (The Century of the Self) mostra como t&eacute;cnicas oriundas da psicologia foram utilizadas desde o come&ccedil;o do s&eacute;culo XX para forjar uma sociedade individualista e politicamente fr&aacute;gil, lan&ccedil;ando m&atilde;o do h&aacute;bito do consumo como indulg&ecirc;ncia acess&iacute;vel a todos. Isso vai muito al&eacute;m da produ&ccedil;&atilde;o e do com&eacute;rcio, infantiliza a popula&ccedil;&atilde;o, e tem reflexos profundos na rela&ccedil;&atilde;o das pessoas com as tecnologias que adquirem.</p> <h2> A quem pertencem os objetos?</h2> <p>Quando pagamos por um produto, acreditamos poder fazer o que quisermos com ele. Isso deveria incluir todos os usos previstos pelo fabricante, al&eacute;m de todos os outros usos que quis&eacute;ssemos propor. Nas condi&ccedil;&otilde;es atuais, pode n&atilde;o ser bem assim. Particularmente em rela&ccedil;&atilde;o a eletr&ocirc;nicos, existe uma s&eacute;rie de restri&ccedil;&otilde;es legais sobre como podemos utiliz&aacute;-los. S&atilde;o cada vez mais frequentes os casos de fabricantes que penalizam os usu&aacute;rios que promovem o desvio de fun&ccedil;&otilde;es de seus aparelhos. Um exemplo: a Sony <a href="http://yro.slashdot.org/story/01/10/28/005233/Sony-Uses-DMCA-To-Shut-Down-Aibo-Hack-Site">amea&ccedil;ou judicialmente</a> entusiastas por desenvolverem software que habilitava o rob&ocirc; Aibo a dan&ccedil;ar. Em outras palavras: a empresa proibiu usu&aacute;rios &ndash; que, diga-se de passagem, pagaram caro pelos equipamentos que compraram - de fazerem usos que ela pr&oacute;pria n&atilde;o consegue oferecer. Por mera compuls&atilde;o de controle, ela interfere em um aspecto fundamental para a promo&ccedil;&atilde;o da inova&ccedil;&atilde;o e seu potencial de transforma&ccedil;&atilde;o social: a chamada <em>indetermina&ccedil;&atilde;o</em> <em>do</em> <em>objeto</em> <em>t&eacute;cnico,</em> ideia bem desenvolvida pelo franc&ecirc;s Gilbert de Simondon (cujos textos v&ecirc;m sendo traduzidos ao portugu&ecirc;s e disponibilizados na internet por <a href="http://rede.metareciclagem.org/wiki/DialogosCasinhaNovaes">Thiago Novaes</a>).</p> <p>Esse v&iacute;cio de controle n&atilde;o se limita ao software. Existem tamb&eacute;m crescentes restri&ccedil;&otilde;es ao armazenamento e circula&ccedil;&atilde;o de conte&uacute;do. Por exemplo, se voc&ecirc; comprar um CD de m&uacute;sica e fizer uma c&oacute;pia de seguran&ccedil;a para manter as m&uacute;sicas caso o CD se extravie ou seja furtado, estar&aacute; incorrendo em crime. Mesmo que n&atilde;o tenha a inten&ccedil;&atilde;o de distribuir para outras pessoas, a ind&uacute;stria fonogr&aacute;fica imp&otilde;e uma legisla&ccedil;&atilde;o que trata a todos como criminosos. A <a href="http://fsf.org">Funda&ccedil;&atilde;o Software Livre</a> mant&eacute;m uma campanha chamada &ldquo;<a href="http://www.defectivebydesign.org/">Deliberadamente defeituosos</a>&rdquo;, atrav&eacute;s da qual critica os aparelhos eletr&ocirc;nicos que adotam sistemas de gerenciamento de direitos autorais. Afirma que esses equipamentos j&aacute; s&atilde;o projetados de maneira a retirar liberdades de seus usu&aacute;rios, o que tem consequ&ecirc;ncias negativas para o conhecimento humano em geral.</p> <p>O autor de literatura <a href="http://pt.wikipedia.org/wiki/Cyberpunk">ciberpunk</a> <a href="http://pt.wikipedia.org/wiki/William_Gibson">William Gibson</a> diz que &ldquo;a rua encontra seus pr&oacute;prios usos para as coisas&rdquo;. Isso &eacute; uma caracter&iacute;stica de todo e qualquer objeto, ainda mais presente em se tratando de ferramentas com m&uacute;ltiplos usos potenciais como computadores, roteadores, telefones, tablets e afins. Com um pouco de habilidade t&eacute;cnica, uma boa pesquisa na internet e muita vontade, um monitor LCD pode virar um projetor, uma impressora matricial se transformar em instrumento de m&uacute;sica, uma webcam servir de base para um microsc&oacute;pio digital, um celular ser usado como leitor de c&oacute;digo de barras. Nesse sentido, restri&ccedil;&otilde;es &agrave; liberdade de uso tendem a frear o impulso criativo. Grupos de pessoas motivadas e com liberdade de experimentar s&atilde;o uma das bases da inova&ccedil;&atilde;o. Se n&atilde;o fossem os amadores promovendo o desvio de fun&ccedil;&atilde;o dos kits de eletr&ocirc;nica nos anos setenta, talvez o computador pessoal nunca tivesse sido inventado. Precisamos garantir que essa liberdade continue existindo.</p> <h2> Apropria&ccedil;&atilde;o cr&iacute;tica e bricotecnologia</h2> <p>Ao longo do tempo e dos diversos projetos desenvolvidos pela rede <a href="http://rede.metareciclagem.org">MetaReciclagem</a>, trabalhamos sempre entre dois extremos: de um lado a ado&ccedil;&atilde;o r&aacute;pida de novas tecnologias e das novas possibilidades que elas trazem, do outro a cr&iacute;tica ao consumismo superficial. A busca do equil&iacute;brio parece estar no que costumamos chamar de <em>apropria&ccedil;&atilde;o cr&iacute;tica</em> das tecnologias. Ela toma forma na aproxima&ccedil;&atilde;o entre produ&ccedil;&atilde;o e uso de conhecimento aplicado que tem emergido internacionalmente. O software livre &eacute; um exemplo, estimulando ciclos econ&ocirc;micos que em vez de operarem em fun&ccedil;&atilde;o da escassez optam pela abund&acirc;ncia e pela generosidade. A chamada cena <em>maker</em> &eacute; um exemplo ainda mais concreto: pessoas no mundo inteiro fazendo uso de conhecimento compartilhado em rede para criar objetos e dispositivos interconectados. Disso saem ideias para aparelhos que realizam praticamente qualquer coisa: esta&ccedil;&otilde;es de monitoramento ambiental, objetos fabricados em impressoras 3D, prot&oacute;tipos de aparelhos focados nas necessidades de pequenos grupos de pessoas. Eu tenho chamado isso de <em>bricotecnologia</em> &ndash; a revaloriza&ccedil;&atilde;o do saber-fazer, aplicado &agrave;s tecnologias de informa&ccedil;&atilde;o e operando em rede.</p> <p>A apropria&ccedil;&atilde;o cr&iacute;tica passa pela valoriza&ccedil;&atilde;o da inova&ccedil;&atilde;o cotidiana, representada pela pr&aacute;tica popular da <a href="/tag/gambiologia"><em>gambiarra</em></a>. S&iacute;mbolo do impulso criativo orientado &agrave; solu&ccedil;&atilde;o de problemas concretos mesmo sem acesso ao conhecimento, ferramentas ou materiais adequados, a gambiarra torna-se ainda mais importante em uma &eacute;poca de crise econ&ocirc;mica global, iminente colapso ambiental e consumismo exacerbado. Baseia-se na <em>manipula&ccedil;&atilde;o</em> (entendida como o ato pegar com as m&atilde;os e interferir nos objetos) e na <em>experimenta&ccedil;&atilde;o</em> (sequ&ecirc;ncia de tentativas, erros e novas tentativas). D&aacute; origem a uma criatividade desobediente, que n&atilde;o se assusta com a precariedade e sempre v&ecirc; o mundo como lotado de potencialidades - uma verdadeira li&ccedil;&atilde;o que as culturas populares brasileiras t&ecirc;m a dar em tempos de crise econ&ocirc;mica, colapso ambiental e disparidade social.</p> <p>Quando em contato com as in&uacute;meras possibilidades das tecnologias de comunica&ccedil;&atilde;o em rede, em especial aquelas ligadas ao <em>software livre</em>, temos um potencial de transforma&ccedil;&atilde;o gigantesco. Indiv&iacute;duos que tenham a gambiarra como habilidade essencial, e se utilizem do conhecimento aberto dispon&iacute;vel em rede para adquirir ideias e t&eacute;cnicas, podem ser vistos como inventores em potencial de novos arranjos criativos, espalhados por todas as classes sociais e localidades.</p> <p>A apropria&ccedil;&atilde;o cr&iacute;tica sup&otilde;e o amadorismo &ndash; que vem do latim <em>amare</em>, referindo-se &agrave;s pessoas que se dedicam a um of&iacute;cio mais por paix&atilde;o do que por necessidade objetiva. Ao contr&aacute;rio do que muitas vezes se pensa, os amadores est&atilde;o em geral mais abertos &agrave; inova&ccedil;&atilde;o. Justamente por n&atilde;o terem o dom&iacute;nio completo da t&eacute;cnica estabelecida e por n&atilde;o ocuparem posi&ccedil;&atilde;o nas hierarquias profissionais, t&ecirc;m mais espa&ccedil;o para o desvio e a transforma&ccedil;&atilde;o. T&ecirc;m a possibilidade de questionar certezas e imposi&ccedil;&otilde;es, e com isso descobrir melhores maneiras de fazer as coisas.</p> <p>Outro tra&ccedil;o caracter&iacute;stico das culturas populares que faz muito sentido para a apropria&ccedil;&atilde;o cr&iacute;tica de tecnologias de comunica&ccedil;&atilde;o &eacute; o <em>mutir&atilde;o</em> &ndash; agrupamento din&acirc;mico que se forma para cumprir tarefas coletivas e em seguida se desfaz. O mutir&atilde;o possibilita a efetiva coopera&ccedil;&atilde;o entre pessoas e grupos, aumentando sua capacidade individual e promovendo uma sociabilidade livre e produtiva. As redes sociais online dialogam muito bem com a l&oacute;gica do mutir&atilde;o, promovendo la&ccedil;os de contato entre pessoas que n&atilde;o t&ecirc;m um conv&iacute;vio cotidiano. &Eacute; natural que a abertura a novos contatos estimule a criatividade, de modo que estimular iniciativas din&acirc;micas em rede &eacute; mais uma forma de potencializ&aacute;-la.</p> <p>A bricotecnologia e a apropria&ccedil;&atilde;o cr&iacute;tica sugerem a reconcilia&ccedil;&atilde;o entre manufatura e necessidades cotidianas, libertando a fabrica&ccedil;&atilde;o da exig&ecirc;ncia de escala. Gabriel Menotti prop&ocirc;s, no artigo &ldquo;<a href="http://medialab-prado.es/article/gambiarra">Gambiarra: The Prototyping Perspective</a>&rdquo; (artigo cuja tradu&ccedil;&atilde;o para portugu&ecirc;s deve sair na compila&ccedil;&atilde;o sobre &ldquo;<a href="http://rede.metareciclagem.org/wiki/MutiraoGambioLogia">Gambiologia</a>&rdquo; do <a href="http://mutgamb.org">MutGamb</a>, uma edi&ccedil;&atilde;o que ironicamente est&aacute; h&aacute; dois anos aguardando finaliza&ccedil;&atilde;o), a an&aacute;lise do contraste entre a gambiarra e o prot&oacute;tipo. Se esta indica uma fase pr&eacute;via &agrave; fabrica&ccedil;&atilde;o propriamente dita, aquela dissolve a fronteira entre esses dois estados e se coloca como solu&ccedil;&atilde;o intermedi&aacute;ria: servindo ao uso ao mesmo tempo em que se mant&eacute;m aberta para reinven&ccedil;&atilde;o. Uma vez que as ferramentas e materiais necess&aacute;rios para fabricar objetos est&atilde;o se tornando cada vez mais acess&iacute;veis, &eacute; importante desenvolver as habilidades t&eacute;cnicas e a criatividade que podem fazer uso desses recursos, e assegurar que apontem a ciclos de inova&ccedil;&atilde;o baseados em conhecimento livre. A apropria&ccedil;&atilde;o cr&iacute;tica, a bricolagem, a gambiarra e o mutir&atilde;o s&atilde;o elementos fundamentais dessa equa&ccedil;&atilde;o.</p> <hr /> <pre> <em>Este artigo foi escrito com o apoio do <a href="http://www.ccebrasil.org.br/">Centro Cultural da Espanha em S&atilde;o Paulo</a> para a plataforma <a href="http://arquivovivo.org.br/redelabs">Arquivo Vivo</a>.</em></pre> http://desvio.cc/blog/apropriacao-critica#comments apropriação fabricação gambiarra gambiologia metareciclagem mutirão redelabs revolução industrial tecnologia Fri, 23 Dec 2011 02:42:37 +0000 efeefe 215 at http://desvio.cc Pós-digital http://desvio.cc/blog/pos-digital <p>H&aacute; alguns meses lancei <a href="http://efeefe.no-ip.org/livro/laboratorios-pos-digital">Laborat&oacute;rios do p&oacute;s-digital</a>, uma compila&ccedil;&atilde;o de artigos escritos desde 2009 at&eacute; o come&ccedil;o deste ano. A express&atilde;o &quot;p&oacute;s-digital&quot; s&oacute; surgiu depois que o livro j&aacute; estava quase pronto. Ou seja, o t&iacute;tulo faz men&ccedil;&atilde;o a uma constru&ccedil;&atilde;o que n&atilde;o aparece ali dentro, pelo menos n&atilde;o articulada dessa forma. Quero tentar desfiar aqui algumas pontas disso.</p> <p>O p&oacute;s-digital &eacute; menos um conceito em si do que uma posi&ccedil;&atilde;o de <em>questionamento</em>. N&atilde;o se trata de negar o digital. Pelo contr&aacute;rio, quero aprofundar um pouco a reflex&atilde;o sobre a pr&oacute;pria ideia de <em>desaparecimento do digital como consequ&ecirc;ncia de sua ubiquidade</em>. A partir do momento em que o digital est&aacute; em toda parte, ser&aacute; que ele ainda funciona como um recorte relevante para entender e interferir na maneira como as redes interconectadas influem na sociedade? Novas tecnologias est&atilde;o sendo desenvolvidas a todo instante. Podemos querer que elas apontem para um futuro mais aberto, participativo e justo. Acredito que a melhor maneira de fazer isso seja parar de falar sobre &quot;o digital&quot; como algo em si.</p> <p>O discurso do digital foi assimilado por praticamente todos os setores da sociedade. Isso toma por vezes uma forma equivocada, &agrave; medida em que se tenta de maneira fetichista opor o digital a um supostamente ultrapassado &quot;anal&oacute;gico&quot;. Ao contr&aacute;rio do que se pode pensar, o <em>anal&oacute;gico est&aacute; presente</em> em praticamente tudo aquilo que alguns tentam chamar de &quot;revolu&ccedil;&atilde;o digital&quot;. Exemplos simples de opera&ccedil;&otilde;es anal&oacute;gicas s&atilde;o o movimento do mouse, as met&aacute;foras visuais da interface de usu&aacute;rio dos computadores e celulares contempor&acirc;neos, o modo como as redes sociais simulam e ampliam a maneira como nos comunicamos pessoalmente. Os scanners, impressoras, microfones e caixas de som s&atilde;o dispositivos que propiciam a convers&atilde;o de informa&ccedil;&atilde;o digital em comunica&ccedil;&atilde;o anal&oacute;gica e vice-versa.</p> <p>Fen&ocirc;menos mais recentes como as <em>aplica&ccedil;&otilde;es m&oacute;veis, locativas e de realidade expandida</em> adicionam ainda novas camadas nessa composi&ccedil;&atilde;o. Pode-se dizer que a maior parte dos usos que as pessoas fazem das tecnologias digitais s&atilde;o <em>usos anal&oacute;gicos</em>. Da&iacute; que boa parte da constru&ccedil;&atilde;o do imagin&aacute;rio do digital j&aacute; come&ccedil;a equivocada, por apostar em uma oposi&ccedil;&atilde;o que n&atilde;o existe.</p> <p>Ainda assim, aquilo que usualmente se define como digital costuma se referir &agrave;s implica&ccedil;&otilde;es de uma s&eacute;rie de transforma&ccedil;&otilde;es efetivas: <em>a digitaliza&ccedil;&atilde;o de comunica&ccedil;&otilde;es, cultura e entretenimento; a emerg&ecirc;ncia de redes auto-organizadas que possibilitam a coordena&ccedil;&atilde;o negociada entre pares e grupos, e gradualmente transformam rela&ccedil;&otilde;es de poder e de cria&ccedil;&atilde;o de valor; e os crescentes barateamento, portabilidade e aumento de poder de processamento dos dispositivos que d&atilde;o acesso a essas redes</em>. Pensar o digital como uma categoria espec&iacute;fica proporcionou a potencializa&ccedil;&atilde;o de ativismo online, de projetos e metodologias colaborativas e de novas ou renovadas maneiras de trabalhar. Ao mesmo tempo, possibilitou o desenvolvimento de iniciativas afirmativas que buscam equilibrar a ado&ccedil;&atilde;o das novas tecnologias de comunica&ccedil;&atilde;o e das oportunidades que trazem - por exemplo naquilo que &eacute; chamado de inclus&atilde;o digital.</p> <p>Por outro lado, o entendimento do digital como um tema em si pode levar a <em>uma s&eacute;rie de distor&ccedil;&otilde;es</em>. &Agrave; medida em que se isola o digital como uma nova realidade, os problemas que ele ocasiona passam a ser entendidos como ocorr&ecirc;ncias pontuais. E n&atilde;o o s&atilde;o. A <em>precariza&ccedil;&atilde;o </em>do trabalho em arranjos cada vez mais inst&aacute;veis e dependentes; a profunda <em>aliena&ccedil;&atilde;o</em> a respeito do impacto ambiental da vida contempor&acirc;nea, em especial como decorr&ecirc;ncia da produ&ccedil;&atilde;o e do descarte de eletr&ocirc;nicos; o surgimento de uma economia &ldquo;digital&rdquo; que &eacute; excludente, elitista, individualista, consumista e que n&atilde;o respeita a privacidade expl&iacute;cita ou impl&iacute;cita de seus usu&aacute;rios; as novas disputas sobre direito autoral e remunera&ccedil;&atilde;o de criadorxs - s&atilde;o parte de um complexo sistema pol&iacute;tico e econ&ocirc;mico global, e <em>n&atilde;o podem ser analisadas de maneira isolada</em>.</p> <p>Se queremos moldar nossos futuros coletivos, precisamos entender que <a href="http://efeefe.no-ip.org/livro/lpd/inovacao-tecnologias-livres-2">o acesso n&atilde;o &eacute; o maior problema</a>. Precisamos parar de pensar em ferramentas, e <em>voltar a ousar</em>. Precisamos que <a href="http://submidialogia.descentro.org">as ideias voltem a ser perigosas</a>. Precisamos investir em assuntos de fronteira, e experimentar para entender suas <em>implica&ccedil;&otilde;es &eacute;ticas, est&eacute;ticas, pol&iacute;ticas e administrativas</em>. Eu sustento que hoje em dia precisamos incorporar o digital como dimens&atilde;o indissoci&aacute;vel da nossa exist&ecirc;ncia. Por isso pensar o p&oacute;s-digital, entremeando o digital em todo o resto e assim esquecendo dele como inst&acirc;ncia isolada.</p> <p>Nesse sentido, eu venho tentando explorar alguns <em>temas latentes</em>, na encruzilhada entre cultura, arte, ci&ecirc;ncia, economia, educa&ccedil;&atilde;o e sociedade. Alguns exemplos s&atilde;o <em>a internet das coisas, o hardware livre, a fabrica&ccedil;&atilde;o digital dom&eacute;stica, o design aberto, a geografia experimental, as cidades inteligentes, a realidade expandida, as m&iacute;dias locativas, as aplica&ccedil;&otilde;es m&oacute;veis, a ci&ecirc;ncia comunit&aacute;ria, os hackerspaces e fablabs</em>, e diversos outros temas nessa linha. S&atilde;o todos temas que tratam essencialmente do digital, mas prop&otilde;em alguns passos adiante. De maneira quase arbitr&aacute;ria, escolhi agrup&aacute;-los ao redor de tr&ecirc;s eixos: <em>laborat&oacute;rios enredados, bricotecnologia</em> e <em>evers&atilde;o</em>.</p> <h1> Labs e Experimenta&ccedil;&atilde;o</h1> <p><a href="http://redelabs.org">Rede//Labs</a>&nbsp;&eacute; uma plataforma criada em 2010 para promover a articula&ccedil;&atilde;o entre diferentes iniciativas ligadas a medialabs e laborat&oacute;rios experimentais do Brasil e do exterior. Realizamos um levantamento, elaboramos um <a href="http://blog.redelabs.org/blog/bolsa-de-cultura-digital-experimental-documentando">edital</a> que seria lan&ccedil;ado pelo Minist&eacute;rio da Cultura (mas perdemos o timing do ano eleitoral), e organizamos um encontro nacional e um painel internacional durante o segundo F&oacute;rum da Cultura Digital, na Cinemateca Brasileira (S&atilde;o Paulo/SP).</p> <p>O levantamento partiu de um questionamento simples, mas leg&iacute;timo: se, por qu&ecirc; e como deveriam ser desenvolvidos hipot&eacute;ticos <em>laborat&oacute;rios experimentais de tecnologias</em> no Brasil dos dias de hoje. Dias em que - com toda a precariedade e instabilidade - o acesso a equipamentos e conectividade &eacute; muito maior do que quando os primeiros medialabs estadunidenses e europeus se estabeleceram, no fim do s&eacute;culo passado. Dias em que o Brasil alcan&ccedil;a alguma proje&ccedil;&atilde;o internacional e pode assumir um papel importante, em especial no uso e suporte a <em>tecnologias livres e abertas</em>.</p> <p>O levantamento indicou que laborat&oacute;rios s&atilde;o de fato desej&aacute;veis - menos por uma suposta car&ecirc;ncia de acesso a tecnologias do que pela necessidade de <em>socializa&ccedil;&atilde;o para dinamizar a criatividade</em> aplicada nelas. Ou seja, o mais importante &eacute; que os labs possibilitem a <em>troca de conhecimento e oportunidades</em>, fomentem o <em>aprendizado distribu&iacute;do</em> e incentivem a <em>descoberta</em>, e mesmo o erro, como parte fundamental do processo.</p> <p>Uma pol&iacute;tica de labs deve estar baseada na disponibiliza&ccedil;&atilde;o de metodologias, materiais e produtos com licen&ccedil;as livres. Deve buscar o <em>desenvolvimento de economias baseadas na abund&acirc;ncia e na generosidade</em> do conhecimento livre. Deve incentivar a circula&ccedil;&atilde;o e o enredamento, e buscar maneiras de financiar a criatividade aplicada que se alimenta da experimenta&ccedil;&atilde;o. Deve, como falei em <a href="http://blog.redelabs.org/blog/labs-experimentais">outro artigo</a>, <em>fazer o amanh&atilde; pensando o depois de amanh&atilde;</em>.</p> <h1> Bricotech</h1> <p>Nos dias de hoje, comunicar-se em rede &eacute; natural. Av&oacute;s octogen&aacute;rias est&atilde;o em redes sociais, senadores contratam profissionais que alimentam seus microblogs (quando n&atilde;o publicam eles mesmos), microempres&aacute;rios precisam gerenciar conta de email, site institucional, blog, loja virtual, perfil no facebook, conta no twitter e por a&iacute; vai. &Eacute; f&aacute;cil esquecer que, mais do que usar, podemos tamb&eacute;m <em>nos apropriar das tecnologias</em> de forma mais profunda e cr&iacute;tica. Por mais que a ind&uacute;stria (em especial aquela parte dela que tenta transformar a internet em um <em>jardim cercado</em>) nos queira a todos como meros usu&aacute;rios consumidores de conte&uacute;do, as partes que comp&otilde;em as tecnologias de comunica&ccedil;&atilde;o est&atilde;o a&iacute;, dispon&iacute;veis para <em>reconfigura&ccedil;&otilde;es</em>, interpreta&ccedil;&otilde;es alternativas, desvios e inova&ccedil;&otilde;es.</p> <p>Existe um tra&ccedil;o comum entre a cena maker, a <a href="http://desvio.cc/tag/gambiologia">gambiologia</a>, o DIY (fa&ccedil;a-voc&ecirc;-mesmo) e seu desdobramento no DIWO (fa&ccedil;a com outras pessoas). Um tra&ccedil;o comum entre as a&ccedil;&otilde;es que se desenvolvem em hackerspaces, o open design, a ci&ecirc;ncia de garagem e comunit&aacute;ria, o biotecnologia amadora, os projetos de hardware livre e as possibilidades (ainda n&atilde;o exploradas a fundo) do <a href="http://rede.metareciclagem.org/blog/27-08-10/O-Fen%C3%B4meno-Shanzhai">shanzhai</a>. Entre a fabrica&ccedil;&atilde;o digital, a <a href="http://rede.metareciclagem.org">MetaReciclagem</a> e o <em>upcycling</em>. Trata-se do impulso de manipular, de <em>tomar nas m&atilde;os o conhecimento tecnol&oacute;gico</em>, e utiliz&aacute;-lo como instrumento para estar no mundo. &Eacute; um posicionamento situado, pol&iacute;tico em sua <em>vontade de transforma&ccedil;&atilde;o</em>, e que tem o potencial de proporcionar uma era de inven&ccedil;&atilde;o socialmente relevante. Eu tenho chamado essas coisas de <em>bricotecnologia</em> - precisamente o ponto de contato entre a sensibilidade das m&atilde;os que sabem modificar a realidade e as mentes conectadas em rede.</p> <h1> Evertendo</h1> <p>Apontei em um <a href="http://desvio.cc/blog/evertendo-gibson">post recente</a> a refer&ecirc;ncia do verbo &quot;everter&quot;, pescado em um livro de William Gibson - autor <em>cyberpunk</em>, criador da pr&oacute;pria ideia de ciberespa&ccedil;o. O sentido que ele tenta dar ao termo &quot;evers&atilde;o&quot; &eacute; de surgimento de pontas do ciberespa&ccedil;o no &quot;mundo real&quot; - uma situa&ccedil;&atilde;o na qual se tornaria imposs&iacute;vel precisar as fronteiras entre o que est&aacute; no plano f&iacute;sico e o que est&aacute; na rede. Desde os prim&oacute;rdios do Projeto Met&aacute;:Fora, precursor da rede MetaReciclagem, a gente j&aacute; falava sobre a dificuldade de definir o que &eacute; online ou offline. Hoje em dia isso &eacute; ainda mais complexo. As redes de fato evertem. Mas que redes s&atilde;o essas?</p> <p>A internet foi criada como uma forma de <em>interconectar computadores de maneira distribu&iacute;da</em>, a partir de <em>protocolos abertos e livremente replic&aacute;veis</em>. Nos dias de hoje, estamos na imin&ecirc;ncia do surgimento de outra sorte de interconex&atilde;o: milh&otilde;es de dispositivos diferentes (sensores, atuadores, c&acirc;meras) est&atilde;o incorporando a possibilidade de comunica&ccedil;&atilde;o em rede.</p> <p>Projetos de cidades do futuro preveem a <em>disponibiliza&ccedil;&atilde;o em tempo real</em> de informa&ccedil;&atilde;o relevante: itiner&aacute;rios e hor&aacute;rios de transporte p&uacute;blico, gerenciamento de sem&aacute;foros, dados sobre consumo de energia, sensores clim&aacute;ticos e afins. Sistemas de automa&ccedil;&atilde;o dom&eacute;stica, com monitoramento remoto de interruptores, eletrodom&eacute;sticos e portas, tamb&eacute;m se tornam acess&iacute;veis. Plataformas como o <a href="http://pachube.com">Pachube</a> facilitam a agrega&ccedil;&atilde;o e circula&ccedil;&atilde;o de dados gerados por esses sistemas. Aplica&ccedil;&otilde;es locativas m&oacute;veis que <em>cruzam as redes com a malha geogr&aacute;fica</em>, jogos de realidade expandida, novas maneiras de interagir com a informa&ccedil;&atilde;o - com telas touchscreen, movimentos, gestos. S&atilde;o pontos de contato entre o local e o remoto, que transformam completamente a nossa rela&ccedil;&atilde;o com o <em>online</em>.</p> <p>Isso tudo pode levar ao surgimento do que est&aacute; sendo chamado de <em>internet das coisas</em>. Mas a tend&ecirc;ncia centralizadora da ind&uacute;stria vem interferindo na maneira como se desenvolvem essas tecnologias, o que aponta muito mais na dire&ccedil;&atilde;o de uma cole&ccedil;&atilde;o de <em>intranets </em>das coisas - espa&ccedil;os restritos e opacos, nos quais ningu&eacute;m sabe muito bem como as coisas funcionam. <a href="http://theinternetofthings.eu">Rob van Kranenburg</a> vem tentando contrapor &agrave; badalada IOT (internet das coisas) uma proposta de IOP (<em>internet das pessoas</em>), que n&atilde;o parta do princ&iacute;pio da fria interconex&atilde;o de objetos, e sim da compreens&atilde;o de que o mais importante da rede &eacute; facilitar e otimizar a sociabilidade humana.</p> <p>Como desenhar protocolos abertos e distribu&iacute;dos que garantam que essas redes sejam realmente <em>participativas e inclusivas desde o princ&iacute;pio</em>, blindadas contra interfer&ecirc;ncias governamentais, corporativas e golpistas? Mais uma vez, insisto: precisamos dar menos aten&ccedil;&atilde;o a &quot;p&aacute;ginas&quot;, &quot;conte&uacute;do&quot; e &quot;acesso&quot;; e nos concentrar mais no <em>papel que a comunica&ccedil;&atilde;o em rede pode efetivamente assumir na vida das pessoas</em>. Esquecer por um instante o digital, e lembrar por que &eacute; mesmo que queremos fazer o que estamos tentando fazer.</p> <p><em>Este artigo foi escrito com o apoio do <a href="http://www.ccebrasil.org.br/">Centro Cultural da Espanha em S&atilde;o Paulo</a>&nbsp;para a <a href="http://arquivovivo.org.br/redelabs">Plataforma Arquivo Vivo</a>.</em></p> http://desvio.cc/blog/pos-digital#comments bricolabs bricotecnologia eversão iot metareciclagem Fri, 21 Oct 2011 00:08:17 +0000 efeefe 211 at http://desvio.cc Boca do lixo http://desvio.cc/blog/boca-do-lixo <p>Essa pe&ccedil;a foi feita para o SIREE, encontro sobre res&iacute;duos solidos no Recife, do qual o <a href="http://lixoeletronico.org">Lixo Eletr&ocirc;nico</a> <a href="http://lixoeletronico.org/blog/siree-2011-o-lixoeletronicoorg-estara-la-acompanhe-aqui-no-blog">participou</a>. O bichinho questiona as brechas legais do descarte de eletr&ocirc;nicos no Brasil. Foi feito com a mais pura <a href="/tag/gambiologia">gambiarra</a>, varal de parede pra erguer as pernas, restos de celulares usados e brinquedos velhos, quase tudo de descarte - menos as 2 tvzinhas que exibiam o olho e a boca falando.</p> <p><iframe title="YouTube video player" width="480" height="390" src="http://www.youtube.com/embed/71Vj2OSZhdc" frameborder="0" allowfullscreen=""></iframe></p> <p> <meta http-equiv="content-type" content="text/html; charset=utf-8" />Fiz tudo no ubuntu, filmes e sintetizador de voz pro bicho ficar com voz de rob&ocirc;. Foi sucesso l&aacute;. Tem tamb&eacute;m fotos no meu <a href="http://www.flickr.com/photos/18818954@N05">flickr</a>. </p> <p>&nbsp;</p> http://desvio.cc/blog/boca-do-lixo#comments arte escultura instalação lixo eletrônico metareciclagem siree Thu, 10 Mar 2011 18:03:16 +0000 glaupaiva 197 at http://desvio.cc AVLAB - Gambiologia - Vídeos http://desvio.cc/blog/avlab-gambiologia-v%C3%ADdeos <p>J&aacute; est&atilde;o dispon&iacute;veis os v&iacute;deos do <a href="http://desvio.weblab.tk/blog/gambiologia-avlab-ccj">encontro AVLAB</a> que eu e <a href="http://bikini.veredas.net">Maira</a> organizamos no CCJ no m&ecirc;s passado, com Gera Rocha, <a href="http://danielhora.wordpress.com/">Daniel Hora</a> e <a href="/desviantes/glaupaiva">Glauco Paiva</a>.</p> <p><iframe src="http://player.vimeo.com/video/14296054?color=ff0179" width="400" height="300" frameborder="0"></iframe></p> <p><a href="http://vimeo.com/14296054">AVLAB S&atilde;o Paulo #3 Gambiolgia - pt.01</a> from <a href="http://vimeo.com/ccesp">Centro Cultural da Espanha-AECID</a> on <a href="http://vimeo.com">Vimeo</a>.</p> <p><iframe src="http://player.vimeo.com/video/14300522?color=ff0179" width="400" height="300" frameborder="0"></iframe></p> <p><a href="http://vimeo.com/14300522">AVLAB S&atilde;o Paulo #3 Gambiologia - pt.02</a> from <a href="http://vimeo.com/ccesp">Centro Cultural da Espanha-AECID</a> on <a href="http://vimeo.com">Vimeo</a>.</p> <p>&nbsp;</p> http://desvio.cc/blog/avlab-gambiologia-v%C3%ADdeos#comments avlab cce ccj eventos gambiologia metareciclagem Mon, 23 Aug 2010 00:57:25 +0000 efeefe 179 at http://desvio.cc Lift 10 - Documentação gráfica http://desvio.cc/blog/lift-10-documenta%C3%A7%C3%A3o-gr%C3%A1fica <p>Uma das coisas interessantes da <a href="/tag/lift10">Lift</a> foi a documenta&ccedil;&atilde;o gr&aacute;fica:&nbsp;uma equipe transformava os assuntos mais importantes de cada apresenta&ccedil;&atilde;o em um infogr&aacute;fico, que era depois exibido em um mural. Abaixo o que fizeram pra <a href="http://desvio.weblab.tk/blog/lift-10-metareciclagem-futuros-conectados-no-brasil">minha palestra</a>, e mais um monte <a href="http://www.flickr.com/photos/50521153@N08/sets/72157624127978354/">aqui</a>.</p> <p><a href="http://www.flickr.com/photos/50521153@N08/4635863033/in/set-72157624127978354/"><img src="http://farm5.static.flickr.com/4065/4635863033_6037863c08_d.jpg" alt="Documentação Gráfica" /></a></p> documentação lift10 metareciclagem Fri, 28 May 2010 13:54:35 +0000 efeefe 170 at http://desvio.cc Rolê, parte 1 - velhomundo continental http://desvio.cc/blog/rol%C3%AA-parte-1-velhomundo-continental <p>Durante algumas semanas desse m&ecirc;s, fiz um rol&ecirc; por alguns lugares da Europa, participando de eventos e conhecendo pessoas. Esse post &eacute; a primeira parte de uma tentativa de documenta&ccedil;&atilde;o com base em anota&ccedil;&otilde;es, tweets e lembran&ccedil;as.</p> <h2>Genebra - Lift10</h2> <p>Meu primeiro destino foi Genebra, onde se realizaria a confer&ecirc;ncia <a href="http://liftconference.com/lift10">Lift 10</a>. Eu fui convidado a falar sobre <a href="http://rede.metareciclagem.org">MetaReciclagem</a> e Brasil. Algumas semanas antes, um dos organizadores me mandou alguns v&iacute;deos com exemplos de palestras que foram bem recebidas em edi&ccedil;&otilde;es anteriores. Eram palestras de alt&iacute;ssimo n&iacute;vel, tanto que chegaram a me intimidar. Isso acabou me distraindo um pouco da confer&ecirc;ncia - fiquei bastante tempo andando pela cidade e elaborando ideias, ou no quarto escrevendo e reescrevendo.</p> <p><img align="right" alt="Frio" src="http://farm5.static.flickr.com/4003/4613660582_b4f24c0f94_m_d.jpg" />Andar por Genebra &eacute; uma experi&ecirc;ncia singular. Um ar rom&acirc;ntico e algo liter&aacute;rio - imposs&iacute;vel n&atilde;o procurar o Outro Borges espreitando em algum banco de pra&ccedil;a, debaixo do frio inesperado para uma primavera. Al&eacute;m disso, a presen&ccedil;a de todas as institui&ccedil;&otilde;es internacionais em torno da ONU - e das delega&ccedil;&otilde;es do mundo inteiro que v&atilde;o para l&aacute; pleitear, debater, influenciar - evoca uma certa sensa&ccedil;&atilde;o de fronteira. Mas &eacute; uma fronteira mundial, uma fronteira de todas as na&ccedil;&otilde;es, que parece atrair a presen&ccedil;a de muitxs <a href="http://tecnomagxs.wordpress.com/2009/07/13/147/">feiticeirxs</a>. A tudo isso se junta a coisa mais fria do dinheiro puro - muitos bancos, muitas lojas de grife, muita gente que cultua essas coisas.</p> <p>Publiquei mais algumas coisas sobre a cidade e a estrutura da Lift no <a href="http://efeefe.no-ip.org/blog/chegada-em-genebra-e-come%C3%A7o-da-lift">meu blog</a>.</p> <p>Uma das poucas sess&otilde;es que assisti foi sobre &quot;<a href="http://liftconference.com/lift10/program/session/redefinition-privacy">A redefini&ccedil;&atilde;o da privacidade</a>&quot;. Anota&ccedil;&otilde;es abaixo:</p> <p><img align="right" src="http://farm5.static.flickr.com/4001/4613047219_10c888bdbf_m_d.jpg" alt="Estrutura da CICG" /><a href="http://liftconference.com/person/oglass1">Oliver Glassey</a> declarou que as redes sociais representam o fim da privacidade. Disse que &eacute; um equ&iacute;voco pensar que as novas gera&ccedil;&otilde;es (os &quot;nativos digitais&quot;, nas palavras dele) n&atilde;o sabem, n&atilde;o se preocupam ou nada fazem em rela&ccedil;&atilde;o a privacidade. Falou tamb&eacute;m sobre a moldagem coletiva da identidade social online: redes sociais como filtragem e enquadramento de identidade; diferen&ccedil;as entre a identidade virtual idealizada vs. a vida real estendida; explora&ccedil;&atilde;o da pr&oacute;pria defini&ccedil;&atilde;o do self. Sugeriu que, ao contr&aacute;rio do que se pensa, os perfis do facebook refletem a personalidade real das pessoas, n&atilde;o a idealiza&ccedil;&atilde;o feita para adequa&ccedil;&atilde;o ao contexto local. Falou ainda sobre a reinven&ccedil;&atilde;o heterog&ecirc;nea dos limites particulares e pessoais: levantou a quest&atilde;o da privacidade como intimidade compartilhada (citando as pessoas que compartilham suas senhas); a oposi&ccedil;&atilde;o entre m&iacute;dia &iacute;ntima e &quot;<em>extimidade</em>&quot;; e sobre a emerg&ecirc;ncia de culturas locais de intimidade e privacidade. Para ele, &eacute; o contexto social que define a privacidade. Comparou as identidades din&acirc;micas &agrave; mudan&ccedil;a r&aacute;pida de roupas. Colocou que a flexibilidade nos papeis sociais &eacute; diferente do ajuste fino de configura&ccedil;&otilde;es de privacidade. Levantou algumas quest&otilde;es importantes: que a pr&oacute;xima brecha digital ser&aacute; entre as pessoas que t&ecirc;m ou n&atilde;o t&ecirc;m a possibilidade de reconstruir a privacidade online; e perguntou quais ferramentas, regras e normas v&atilde;o permitir a mem&oacute;ria social e tamb&eacute;m a <em>amn&eacute;sia social</em> (ambas igualmente importantes).</p> <p>Minha opini&atilde;o sobre a fala do Oliver &eacute; que tudo bem, o p&acirc;nico com a privacidade &eacute; um exagero, mas que existem amea&ccedil;as estruturais a ela que a mera criatividade e flexibilidade sociais n&atilde;o v&atilde;o conseguir enfrentar.</p> <p>Em seguida, entrou o alem&atilde;o <a href="http://liftconference.com/person/christianheller">Chris Heller</a>. Um auto-intitulado futurista, ele entrou no palco falando sobre p&oacute;s-privacidade. Declarou que a privacidade se foi de vez, e que as pessoas tendem a associar privacidade a liberdade. Disse que n&atilde;o concorda totalmente. Usou como exemplo uma vila medieval - n&atilde;o existia privacidade. Evocou a ideia de que o espa&ccedil;o particular &eacute; feminino, e o espa&ccedil;o p&uacute;blico masculino. Disse que tamb&eacute;m associa privacidade ao isolamento e &agrave; vergonha. D&aacute; como exemplo a o fato de que os movimentos feminista e gay tiveram que ir a p&uacute;blico (no sentido <em>oposto &agrave; privacidade</em>) para promover a toler&acirc;ncia, indicando que nem sempre a privacidade se trata de liberdade. Continuou no exemplo da vila medieval, sugerindo que se algu&eacute;m fosse diferente, todos saberiam - o que levaria &agrave; repress&atilde;o da diferen&ccedil;a. Mas contrap&otilde;e a isso o fato de que nas redes, as pessoas podem escolher a sociedade que querem. Falou tamb&eacute;m da gera&ccedil;&atilde;o de conhecimento atrav&eacute;s da abertura (openness) para criticar o DRM.</p> <p>A sess&atilde;o continuou com Martin K&uuml;nzi, do ex&eacute;rcito da salva&ccedil;&atilde;o, falando sobre como usam as redes para suas atividades. N&atilde;o me interessou muito. Mais tarde, <a href="http://liftconference.com/person/lucas-grolleau">Lucas Grolleau</a> contou um pouco do seu trabalho com instrumentos musicais vintage, e fez m&uacute;sica ao vivo com instrumentos e um sampler. A sess&atilde;o terminou com <a href="http://www.liftconference.com/person/chris-woebken">Chris Woebken</a> e <a href="http://www.kenichiokada.com/projects/2008/animalsuperpowers.html">Kenichi Okada</a> apresentando o projeto <a href="http://chriswoebken.com/animalsuperpowers.html">Animal Superpowers</a>, que tenta reproduzir com dispositivos eletr&ocirc;nicos a percep&ccedil;&atilde;o de diferentes animais (formigas, pombos, girafas).</p> <p>Perdi o interesse na sess&atilde;o sobre &quot;As velhas novas m&iacute;dias&quot;. Quase saindo do <a href="http://cicg.ch/en/">CICG</a>, algumas coisas feitas com material reaproveitado chamaram minha aten&ccedil;&atilde;o. Parei para conversar e conheci Michael Shiloh e Judy Castro, que realizavam um workshop de seu projeto <a href="http://teachmetomake.com">Teach me to make</a>, que pros meus olhos tendenciosos pareceu pura MetaReciclagem. Em resumo, os participantes do workshop passaram o dia inteiro inventando coisas a partir de um monte de objetos que estavam por l&aacute;. Toda aquela coisa de incentivar uma sensibilidade criativa do remix, do reuso, da ressignifica&ccedil;&atilde;o. Bom contato, e vou tentar manter pra gente articular algum tipo de interc&acirc;mbio.</p> <p><img alt="Teach me to Make" src="http://farm5.static.flickr.com/4043/4613044897_801cea478f_d.jpg" /></p> <p>No dia seguinte, cheguei para a sess&atilde;o sobre pol&iacute;tica, que come&ccedil;ou com <a href="http://liftconference.com/person/rahafharfoush">Rahaf Harfoush</a>. Ela - que trabalha para o F&oacute;rum Econ&ocirc;mico Mundial - falou sobre a campanha do Obama, numa perspectiva muito norte-americana e objetiva. O tom era sobre ferramentas para conquistar, dominar, obter sucesso e vit&oacute;ria. Me incomodou bastante que uma mesa sobre &quot;pol&iacute;tica&quot; s&oacute; falasse sobre &quot;campanha&quot;. Sinal dos tempos, claro. Espet&aacute;culo puro. Para ela, um v&iacute;deo do Obama jogando basquete, publicado na internet, &eacute; &quot;criar rela&ccedil;&atilde;o com as pessoas&quot;. Depois ela melhorou um pouco, falando sobre opendata. Mas n&atilde;o trouxe nada de novo, na minha opini&atilde;o. Na hora, perguntei no twitter: &quot;e a pol&iacute;tica do dia a dia, onde t&aacute;? pol&iacute;tica t&aacute;tica, de bairro, de vizinhan&ccedil;a. como as tecnologias mudam essa pol&iacute;tica?&quot;. Ela ainda deu uma bola dentro comentando sobre o pessoal do <a href="http://ushahidi.org/">Ushahidi</a>, sobre quem eu j&aacute; tinha ouvido falar pelo <a href="http://cesarharada.com/">Cesar Harada</a>. Rahaf tamb&eacute;m falou sobre o papel das redes sociais nos protestos no Ir&atilde;. Ao fim da apresenta&ccedil;&atilde;o, perguntas:</p> <p><a href="http://www.liftconference.com/person/laurent-haug">Laurent Haug</a>: as m&iacute;dias sociais poderiam ser utilizadas para outras finalidades al&eacute;m de campanhas?<br /> Rahaf sim, para entender o que as pessoas querem.<br /> Laurent: como gerenciar a grande quantidade de perguntas?<br /> Rahaf: O melhor &eacute; deixar as pr&oacute;prias pessoas decidirem quais s&atilde;o as perguntas importantes.<br /> Laurent: Isso ainda funciona se todos fizerem?<br /> Rahaf: A campanha mostrou as possibilidades. Daqui a pouco pode ser diferente.<br /> Laurent: Dados s&atilde;o facas de dois gumes?<br /> Rahaf: Quando uma coisa passa a ser monitorada, outra aparece. As pessoas s&atilde;o espertas.</p> <p>A apresenta&ccedil;&atilde;o seguinte foi de <a href="http://liftconference.com/person/claudia-sommer">Claudia Sommer</a>, do Greenpeace alem&atilde;o. J&aacute; come&ccedil;ou limitada, com Laurent dizendo que o Greenpeace &eacute; outra organiza&ccedil;&atilde;o que est&aacute; &quot;espalhando sua mensagem&quot;. Mais uma apresenta&ccedil;&atilde;o sobre campanhas, sem muita conversa de pol&iacute;tica cotidiana.</p> <p>Encontrei o colega <a href="http://bricolabs.net">bricoleiro</a> Alejo Duque, e aproveitei pra entrevist&aacute;-lo enquanto ele almo&ccedil;ava. Conversamos sobre coisas que est&atilde;o acontecendo no Brasil e na Col&ocirc;mbia, sobre a ideia de laborat&oacute;rios de m&iacute;dia e como ela se adapta a diferentes contextos. Vou publicar a entrevista nas pr&oacute;ximas semanas no <a href="http://culturadigital.br/redelabs/">blog Redelabs</a>.</p> <p>Voltei pro hotel pra preparar minha apresenta&ccedil;&atilde;o, que aconteceria no dia seguinte. Perdi a <a href="http://liftconference.com/lift10/program/talk/antonio-casilli-doomed-be-forever-young-social-archaeology-digital-natives">apresenta&ccedil;&atilde;o</a> do simp&aacute;tico <a href="http://liftconference.com/person/antoniocasilli">Antonio Casilli</a>. Eu at&eacute; queria voltar tamb&eacute;m pro debate sobre <a href="http://liftconference.com/lift10/program/session/whats-line-communities">comunidades online</a>, mas n&atilde;o consegui. Fiquei acordado at&eacute; as tr&ecirc;s e pouco da manh&atilde;, escrevendo.</p> <p>Na sexta-feira, fui ao CICG de manh&atilde; para passar o som e testar meu laptop - tudo muito profissional - e voltei pro hotel pra dormir mais uma horinha. Fui de novo para l&aacute; por volta do meio-dia. Estava terminando de escrever e organizar os slides. A <a href="http://liftconference.com/lift10/program/session/lift-10-stories">sess&atilde;o</a> na qual eu falaria come&ccedil;ou com <a href="http://liftconference.com/person/richardmurton">Richard Murton</a>, da Accenture, desfiando todo o jarg&atilde;o corporativo que tenta descobrir maneiras de transformar a sociabilidade online em dinheiro. Continuou com <a href="http://liftconference.com/person/russelldavies">Russel Davies</a>, do <a href="http://www.reallyinterestinggroup.com/">Really Interesting Group</a>, com uma <a href="http://liftconference.com/lift10/program/talk/russell-davies-printing-internet-out">apresenta&ccedil;&atilde;o</a> que para meu azar foi uma das mais bem avaliadas de toda a confer&ecirc;ncia. Achei tamb&eacute;m metarecicleira uma frase dele: &quot;existem peda&ccedil;os magn&iacute;ficos de infraestrutura dando sopa&quot;. Logo depois de Russel, foi minha vez.</p> <p>J&aacute; publiquei um relato mais detalhado <a href="http://desvio.weblab.tk/blog/lift-10-metareciclagem-futuros-conectados-no-brasil">aqui</a>, ent&atilde;o n&atilde;o vou me alongar por aqui. Ao fim, algumas pessoas interessantes vieram conversar. Minha percep&ccedil;&atilde;o n&atilde;o foi t&atilde;o boa, mas tudo bem. Gostei de ter sido elogiado pelo <a href="http://twitter.com/nicolasnova">Nicolas Nova</a>, um dos organizadores da Lift. Talvez ainda mais interessante, um monte de gente no Brasil comentou no twitter sobre a apresenta&ccedil;&atilde;o.</p> <p>Fiquei desconfort&aacute;vel com o formato da Lift - excelente para palestrantes carism&aacute;ticos, o que n&atilde;o &eacute; meu estilo. Tamb&eacute;m me incomodou o foco geral em startups, imagem p&uacute;blica, publicidade e extra&ccedil;&atilde;o de lucro das m&iacute;dias sociais. Puro espet&aacute;culo, muita preocupa&ccedil;&atilde;o com lucratividade e pouca com o mundo l&aacute; fora das planilhas. O fato de terem me chamado e aberto espa&ccedil;o pra outra perspectiva &eacute; interessante, mas ainda assim n&atilde;o pude deixar de me sentir o desvio controlado do tom geral da confer&ecirc;ncia. Lembrei um pouco da Shift em Lisboa, onde falei em 2006. At&eacute; tentei ir &agrave; festa de encerramento da Lift, mas rolou aquela cena t&iacute;pica de entrar no bar, as pessoas olharem por meio segundo e depois voltarem a aten&ccedil;&atilde;o para seus grupinhos fechados outra vez. Galera esquisita, sem muito interesse na diferen&ccedil;a. Ou &eacute; encana&ccedil;&atilde;o minha, deixa pra l&aacute;.</p> <p>Mais sobre a Lift, minha participa&ccedil;&atilde;o e um pouquinho de Genebra <a href="http://desvio.weblab.tk/blog/lift-10-metareciclagem-futuros-conectados-no-brasil">neste post</a>.</p> <h2>Karlsruhe - ZKM</h2> <p><img align="right" alt="Trabalhando no trem" src="http://farm5.static.flickr.com/4043/4613773446_f3e5018efa_m.jpg" />Fui de Genebra a Karlsruhe no s&aacute;bado, de trem. Ainda na Su&iacute;&ccedil;a, o clima rom&acirc;ntico &agrave; beira do lago L&eacute;man foi mudando para uma paisagem mais inexplorada, de montanha. J&aacute; fui reprogramando a mente para trocar meu parco franc&ecirc;s pelo alem&atilde;o infantil. Fiz conex&atilde;o em Basileia. Ecos de hist&oacute;ria (Nietzsche) e da pol&iacute;tica do <a href="http://lixoeletronico.org">lixo eletr&ocirc;nico</a> (a conven&ccedil;&atilde;o de Basileia). Tem alguma coisa de mistura ali, de um tipo mais comum de fronteira. &Agrave; medida que avan&ccedil;ava para a Alemanha e tomava dist&acirc;ncia da Su&iacute;&ccedil;a, percebia que nesta a mistura entre alem&atilde;es, franceses e italianos pode ter sido ben&eacute;fica para os todos.</p> <p>Percebi com algum espanto que o alem&atilde;o agora me incomoda muito menos do que quando vivi por l&aacute;. &Eacute; claro que a sensa&ccedil;&atilde;o vai al&eacute;m da l&iacute;ngua - diferentes regi&otilde;es da Alemanha t&ecirc;m diferentes n&iacute;veis de abertura e interesse pela diferen&ccedil;a. De dentro do trem, as placas com nomes como Freiburg (Cidade Livre) e Offenburg (Cidade Aberta) davam alguma esperan&ccedil;a. Enquanto me aproximava do Meno, pensava nos antepassados da minha m&atilde;e que trocaram a Alemanha pelo Brasil no in&iacute;cio do s&eacute;culo XIX. Eram camponeses famintos? Desajustados, sonhadores? Atravessaram o mundo por ousadia, gan&acirc;ncia cega, aventura, burrice? Imposs&iacute;vel saber.</p> <p>Karlsruhe me recebeu com sol. O povo &eacute; bastante amig&aacute;vel, a cidade organizada como &eacute; de se esperar e bonitinha como eu n&atilde;o imaginava. Logo ao lado da esta&ccedil;&atilde;o de trem, um monte de bicicletas me fizeram pensar em Amsterdam (e Ubatuba). Fiz check-in no Ibis ao lado da esta&ccedil;&atilde;o, larguei as malas e fui direto ao <a href="http://zkm.de">ZKM</a>. Foi uma visita muito r&aacute;pida, mas significativa. Percorri o m&aacute;ximo que pude dos experimentos expostos l&aacute; - muita coisa interativa, com experi&ecirc;ncias em 3D, e outras experimenta&ccedil;&otilde;es.</p> <p><img alt="Entrada do ZKM" src="http://farm4.static.flickr.com/3586/4613166005_40357c9916.jpg" /></p> <p>Fiquei pensando na import&acirc;ncia desse tipo de espa&ccedil;o de exibi&ccedil;&atilde;o permanente. Tanto no sentido de criar acervo e mem&oacute;ria quanto para formar p&uacute;blico. Tive a impress&atilde;o de que ainda estamos muito no come&ccedil;o, de que ainda &eacute; poss&iacute;vel um monte de experimenta&ccedil;&atilde;o de linguagem e percep&ccedil;&atilde;o, e que isso tamb&eacute;m tem um pouco de adequar a percep&ccedil;&atilde;o. Fiquei pensando na transi&ccedil;&atilde;o da representa&ccedil;&atilde;o pict&oacute;rica em duas dimens&otilde;es para o desenvolvimento do olhar que entende a representa&ccedil;&atilde;o com perspectiva e planos de fuga - al&eacute;m da inova&ccedil;&atilde;o formal, tamb&eacute;m &eacute; importante a forma&ccedil;&atilde;o da percep&ccedil;&atilde;o.</p> <p><img alt="Screen @ ZKM" src="http://farm5.static.flickr.com/4049/4613157823_75c03ea597.jpg" /></p> <h2>Dresden e Berlin</h2> <p><img alt="Twitting!" src="http://farm5.static.flickr.com/4047/4613152889_cd9c8e9641.jpg" /></p> <p><img align="right" alt="Berlin Hauptbanhof" src="http://farm5.static.flickr.com/4045/4613785460_cdece98ffe_m.jpg" />Saindo de Karlsruhe passei dois dias em Dresden, onde vivi por quatro meses em 2007. Passando pelo pr&eacute;dio onde vivia, descobri que existe algu&eacute;m chamadx T.witting ;). Dei algumas voltas em Neustadt, bebi as cervejas locais Radeberger e Waldschl&ouml;sschen, tentei escutar a r&aacute;dio livre do bairro (mas s&oacute; peguei os hor&aacute;rios de m&uacute;sica cl&aacute;ssica). Entrei em contato com o pessoal do TMA, mas n&atilde;o cheguei a visitar o espa&ccedil;o. Foi um tempo mais de descanso e de reconcilia&ccedil;&atilde;o com a cidade que foi t&atilde;o fechada no passado - mas que dessa vez foi mais tranquila, porque eu n&atilde;o tinha expectativas ou maiores compromissos. Percebi mais claramente a import&acirc;ncia de Neustadt - bairro de imigrantes, estudantes, artistas e minorias em geral - em evitar que Dresden vire um inferno neonazi.</p> <p>Encerrei a parte continental da viagem indo de trem at&eacute; Berlim. Estava muito frio para andar, ent&atilde;o acabei passando a hora e meia que tinha antes de ir para o aeroporto na pr&oacute;pria esta&ccedil;&atilde;o de trem. Caf&eacute;, supermercado para comprar mostarda e teewurst, e l&aacute; fui eu para o aeroporto Sch&ouml;nefeld, pegar um <strike>bus&atilde;o a&eacute;reo</strike> v&ocirc;o da Easyjet para Liverpool.</p> http://desvio.cc/blog/rol%C3%AA-parte-1-velhomundo-continental#comments alemanha eventos genebra intercâmbio internacional karlsruhe lift10 liftconference metareciclagem suíça tour trip zkm Mon, 24 May 2010 20:05:49 +0000 efeefe 168 at http://desvio.cc Futuro tudo http://desvio.cc/blog/futuro-tudo <p><img align="right" alt="Contact Theatre" src="http://farm5.static.flickr.com/4011/4616731155_9016cb902a_d.jpg" />O festival <a href="http://www.futureeverything.org/festival2010/">Future Everything 2010</a> (antigo FutureSonic, onde tamb&eacute;m <a href="http://efeefe.no-ip.org/tag/futuresonic">estive em 2008</a>) resolveu levar a s&eacute;rio o princ&iacute;pio de reinventar o formato da confer&ecirc;ncia internacional para tempos hiperconectados e ecologicamente conscientes. No cora&ccedil;&atilde;o da programa&ccedil;&atilde;o para esse ano estava a <a href="http://www.futureeverything.org/festival2010/GloNet">Glonet</a>, um grande interc&acirc;mbio em tempo real entre Jap&atilde;o, Reino Unido, Brasil e Canad&aacute;. Foram realizados paineis conjuntos entre Manchester e cada uma dessas localidades.</p> <p>No Brasil, um pessoal estava no MASP, fazendo apresenta&ccedil;&otilde;es e participando da apresenta&ccedil;&atilde;o de Manchester. Foi uma costura interessante entre o Future Everything, British Council e o <a href="http://www.artemov.net/glonet/#/home">Arte.Mov</a>. <a href="http://twitter.com/bambozzi">Lucas Bambozzi</a> coordenou as mesas desde o Brasil. Foi a primeira vez que vi videoconfer&ecirc;ncia remota realmente funcionando:&nbsp;havia uns gaps, uma ou outra falha de &aacute;udio, mas no geral rolou muito bem. Assisti &agrave; abertura em sampa, tive que sair durante a apresenta&ccedil;&atilde;o do Wisnik e depois vi as falas da <a href="https://twitter.com/gbeiguelman">Giselle Beiguelman</a> e do <a href="http://www.cicerosilva.com/">C&iacute;cero Silva</a>.</p> <p>L&aacute; pelo meio da Glonet com sampa, eu tive vinte minutos para uma apresenta&ccedil;&atilde;o. Em alguns aspectos, foi parecida com a minha <a href="http://desvio.weblab.tk/blog/lift-10-metareciclagem-futuros-conectados-no-brasil">apresenta&ccedil;&atilde;o na Lift</a>, mas com uma &ecirc;nfase especial em alguns pontos, e algumas quest&otilde;es melhor trabalhadas at&eacute; por conta do feedback que tive depois de Genebra. Tentei pegar um pouco mais a quest&atilde;o da cidade como referencial que a gente herdou da matriz europeia sem ter passado pelo mesmo processo de evolu&ccedil;&atilde;o e acomoda&ccedil;&atilde;o ao longo dos s&eacute;culos ou mil&ecirc;nios, e passei menos tempo detalhando a hist&oacute;ria da MetaReciclagem. No come&ccedil;o, parece que falei r&aacute;pido demais (estava rolando uma tradu&ccedil;&atilde;o no Brasil, coisa que eu n&atilde;o tinha imaginado que ia rolar), e em alguns pontos tivemos alguns problemas de &aacute;udio.</p> <p>Depois que eu falei, abrimos para coment&aacute;rios, e recebi alguns coment&aacute;rios direto do Brasil. Por algum tempo, s&oacute; vi o Lucas comentando sem &aacute;udio, mas consegui pegar no final ele falando sobre como muitas vezes o software livre &eacute; acompanhado de uma atitude que n&atilde;o &eacute; livre. &Eacute;&nbsp;verdade, mas isso n&atilde;o &eacute; inerente ao software livre - vem das pessoas, e &eacute; com elas que precisa ser resolvido. Ele tamb&eacute;m mencionou que no come&ccedil;o havia muito mais criatividade e efervesc&ecirc;ncia acontecendo nessa esfera, e a&iacute; eu discordo totalmente. Ainda vejo muita coisa muito interessante acontecendo, ainda que com outras pessoas.</p> <p>C&iacute;cero Silva criticou um certo exoticismo quando eu falava da gambiarra:&nbsp;questionou se fazendo isso a gente n&atilde;o est&aacute; desviando das quest&otilde;es mais importantes e nos colocando como inferiores de certa forma - o que levaria os &quot;pa&iacute;ses ricos&quot; a nos dar algum dinheiro pra fazer nossas macaquices enquanto eles continuavam seu pr&oacute;prio ritmo. Eu consigo ver a l&oacute;gica do argumento dele, que tamb&eacute;m &eacute; parecida com uma cr&iacute;tica que eu j&aacute; ouvi em rela&ccedil;&atilde;o &agrave; MetaReciclagem logo no come&ccedil;o: &quot;s&oacute; porque &eacute; inclus&atilde;o digital a galera n&atilde;o merece computador novo?&quot;. Na hora respondi pro C&iacute;cero que se funcionar como estrat&eacute;gia pros &quot;pa&iacute;ses ricos&quot; darem dinheiro pra gente, eu n&atilde;o reclamo. Mas eu tamb&eacute;m acho mais algumas coisas:&nbsp;a minha <a href="/tag/gambiologia">defesa da gambiarra</a> como habilidade criativa essencial, como tra&ccedil;o da inova&ccedil;&atilde;o cotidiana que pode sim influenciar os processos industriais, n&atilde;o exclui outras possibilidades conceituais e experimentais. Me interesso pelo tipo de tecnologia que pode ser desenvolvida quando se reconhece que as pessoas t&ecirc;m muita criatividade s&oacute; esperando pelas ferramentas certas. Mas nunca me coloquei como porta-voz de toda a cultura eletr&ocirc;nica no Brasil. Tem gente fazendo coisas muito avan&ccedil;adas, que n&atilde;o se relacionam muito com o DIY, o hardware livre, o improviso e a eterna dan&ccedil;a da inven&ccedil;&atilde;o em meio &agrave; precariedade. Mas eu n&atilde;o tenho nenhuma obriga&ccedil;&atilde;o de falar sobre essas coisas - falo do que me interessa, onde for relevante. Quanto a isso, o moderador <a href="http://www.futureeverything.org/community/newuser?id=2174">Adam Greenfield</a> afirmou depois que achou interessante e inspiradora a perspectiva da gambiarra (sempre engra&ccedil;ado ouvir o pessoal tentando falar &quot;gambiarra&quot; e &quot;metareciclagem&quot;).</p> <p>Mais um participante do Brasil comentou alguma coisa sobre sociedade descentralizada e em rede, e no fim perguntou &quot;who will rule it&quot;. Na hora, achei que ele tinha perguntado &quot;quem vai mandar&quot; e respondi longamente dizendo que n&atilde;o sabia. Mas agora acho que ele pode ter tentado questionar &quot;quem vai fazer as regras&quot;. E isso &eacute; outro debate em si. Espero que as regras possam ser feitas cada vez mais a partir de princ&iacute;pios e padr&otilde;es abertos e colaborativos, mas isso &eacute; uma luta grande e cada vez mais feia.</p> <p><a href="http://twitter.com/tapmak"><img align="right" alt="Monitored landscape" src="http://farm5.static.flickr.com/4060/4617343880_4d2e6c81a5_d.jpg" />Tapio Makela</a>, que precisou sair antes de a sess&atilde;o acabar, mais tarde me perguntou se o enquadramento em uma imagem nacional seria uma estrat&eacute;gia, uma t&aacute;tica ou uma realidade. Eu acho que s&atilde;o as tr&ecirc;s coisas:&nbsp;uma dire&ccedil;&atilde;o deliberada para influenciar como as coisas acontecem tanto no &acirc;mbito interno quanto externo - coisas que apesar de toda a integra&ccedil;&atilde;o v&atilde;o continuar existindo enquanto existirem fronteiras -; uma inven&ccedil;&atilde;o cotidiana feita para subverter a microescala das estrat&eacute;gias alheias; e com certeza a compreens&atilde;o de que diferentes din&acirc;micas sociais acabaram por influenciar o entendimento que xs brasileirxs temos de n&oacute;s mesmxs e do nosso lugar no mundo.</p> <p>Durante os tr&ecirc;s dias que estive em Manchester, ainda dei uma circulada pela cidade e pude ver um pouco da programa&ccedil;&atilde;o paralela do Festival. Algumas coisas bem interessantes, como <strike>a m&aacute;quina de fazer m&uacute;sica</strike>&nbsp;o <a href="http://createdigitalmusic.com/2009/06/22/maker-faire-music-moldover%E2%80%99s-syncomasher-live-electronica-controllerism-for-everyone/">Syncomasher</a> do <a href="http://www.futureeverything.org/community/newuser?id=2135">Moldover</a> no primeiro andar do Contact Theatre, e as pe&ccedil;as expostas no pub do Palace Hotel - como a Monitored Landscape no. 16, de Robin Tarbet, que montou uma cidade com peda&ccedil;os de eletr&ocirc;nicos. Tamb&eacute;m fiz uma visita ao <a href="http://www.arcspacemanchester.org.uk/portal/">Arc Space</a>, mas isso vai ser assunto pra um <a href="http://rede.metareciclagem.org/blog/25-05-10/Duas-conversas-em-Manchester">post no blog da MetaReciclagem</a>.</p> <p><img alt="Detalhe da máquina de música" src="http://farm5.static.flickr.com/4013/4617344274_8f6683e634_d.jpg" /></p> <p>Pra quem quer ver mais:</p> <ul> <li><a href="http://www.scribd.com/doc/31578974/MetaReciclagem-Future-Everything-Glonet-Text-efeefe">Texto da minha apresenta&ccedil;&atilde;o</a></li> <li><a href="http://www.scribd.com/doc/31578965/MetaReciclagem-Future-Everything-Glonet-efeefe">Slides da minha apresenta&ccedil;&atilde;o</a></li> <li><a href="http://www.flickr.com/photos/felipefonseca/tags/futr/">Fotos durante o Future Everything</a></li> <li><a href="http://www.flickr.com/photos/felipefonseca/tags/manchester">Todas minhas fotos em Manchester</a></li> <li><a href="http://desvio.weblab.tk/blog/rol%C3%AA-parte-2-velhomundo-insular">Mais sobre minha passagem pelo Reino Unido</a></li> </ul> <p><strong>Atualizando:</strong>&nbsp;acabei nem comentando sobre o <a href="http://www.contact-theatre.org/">Contact Theatre</a>, o n&oacute; principal do festival. &Eacute;&nbsp;uma constru&ccedil;&atilde;o meio estranha, mas com uma programa&ccedil;&atilde;o muito interessante - bastante m&uacute;sica independente, festivais alternativos e tal. Me perdi algumas vezes nos corredores para as salas, e gostei. A cerveja &eacute; boa e a comida razo&aacute;vel.</p> http://desvio.cc/blog/futuro-tudo#comments eventos futr future everything manchester metareciclagem trip Wed, 19 May 2010 01:28:25 +0000 efeefe 167 at http://desvio.cc Lift 10 - MetaReciclagem - Futuros Conectados no Brasil http://desvio.cc/blog/lift-10-metareciclagem-futuros-conectados-no-brasil <p><img align="right" alt="Programação visual da Lift" src="http://farm4.static.flickr.com/3301/4613043859_bd3debe253.jpg" />Na semana passada palestrei na <a href="http://liftconference.com/lift10">Lift Conference</a>, em Genebra. Os dias na cidade foram interessantes - e mais frios do que eu esperava. Encontrei o camarada <a href="http://bricolabs.net">bricoleiro</a> Alejo Duque, senti um pouco do clima internacional, com o que tem de bom e ruim, bebi o melhor chocolate quente da minha vida na Chocolaterie du Rh&ocirc;ne e comi um verdadeiro fondue su&iacute;&ccedil;o.</p> <p>A <a href="http://head.hesge.ch/made/media-design/2010/04/24/modedemo/">mostra</a> da <a href="http://hmrge.ch/">Escola de Arte e Design</a>, depois de uma olhada mais profunda, tinha algumas coisas interessantes. Uma delas era o experimento de <a href="http://www.interaction.rca.ac.uk/ka-fai-choy">Ka Fai Choy</a> sobre a mem&oacute;ria muscular de movimentos - <a href="http://www.interaction.rca.ac.uk/kafai-choy/eternal-summer-storm">Eternal Summer Storm</a>. Usando eletrodos para controlar o movimento de alguns m&uacute;sculos, ele tenta recriar os movimentos de uma performance cl&aacute;ssica de teatro japon&ecirc;s.</p> <p><img alt="Eternal Summer Storm" src="http://farm4.static.flickr.com/3572/4613662300_fbb5c12b47.jpg" /></p> <p>Mas quase todo o restante da confer&ecirc;ncia era puro interesse corporativo:&nbsp;consultorias, startups, publicidade, aquele clima de dinheiro f&aacute;cil e especula&ccedil;&atilde;o forte. J&aacute; cansado desse clima, me surpreendi logo no primeiro dia, ao encontrar o pessoal do <a href="http://www.teachmetomake.com/">teach me to make</a> fazendo um workshop. Puro esp&iacute;rito <a href="/tag/gambiologia">gambiol&oacute;gico</a> em a&ccedil;&atilde;o! Troquei contatos, e ainda vou conversar mais com eles.</p> <p><img alt="Teach me to make" src="http://farm4.static.flickr.com/3413/4613045291_d99fe96467.jpg" /></p> <p><img alt="Useless but cool" src="http://farm5.static.flickr.com/4008/4613045931_f252fd2ae1_d.jpg" /></p> <p>Antes da confer&ecirc;ncia, um dos organizadores tinha me mandado alguns exemplos de palestras que foram bem recebidas na Lift. Me assustei com o formato espet&aacute;culo da coisa:&nbsp;muito bom pra palestrantes carism&aacute;ticos, mas n&atilde;o exatamente a minha praia. Pra combater a inseguran&ccedil;a (e evitar o devaneio excessivo no qual muitas vezes incorro), decidi escrever um texto e tentar ler durante a minha apresenta&ccedil;&atilde;o de vinte minutos. Terminei o texto meia hora antes da apresenta&ccedil;&atilde;o. O&nbsp;palestrante que foi antes de mim, do <a href="http://www.reallyinterestinggroup.com/">RIG</a>, foi muito bem. At&eacute; demais :P</p> <p>Subi no palco, vi aquele monitor grande olhando pra mim, o rel&oacute;gio com a contagem regressiva, e comecei meus vinte minutos de quase-leitura. Dei algumas engasgadas, falei algumas palavras que duvido que algu&eacute;m tenha compreendido. L&aacute; pelo meio, vi que s&oacute; tinha mais um quarto do tempo, e resolvi pular alguns trechos. Talvez tenha escolhido os trechos errados para pular.</p> <p>N&atilde;o gostei do resultado. Claro que tem a&iacute; a minha pouca familiaridade com o formato e com o pr&oacute;prio p&uacute;blico da confer&ecirc;ncia, mas de qualquer forma foi bom depois receber um feedback positivo de algumas pessoas presentes, dos organizadores e - mais ainda - da galera que assistiu o streaming no Brasil.</p> <p>De qualquer forma, publiquei o texto que eu deveria ter lido e os slides que apresentei e colei aqui embaixo, junto com os v&iacute;deos brutos que eles transmitiram. Espero que possam ser &uacute;teis pra algu&eacute;m.</p> <ul> <li><a href="http://www.scribd.com/doc/31417212/MetaReciclagem-Lift10-Text-efeefe">Texto no Scribd</a>.</li> <li><a href="http://www.scribd.com/doc/31416994/MetaReciclagem-Lift10-efeefe">Slides no Scribd</a>.</li> <li><a href="http://www.livestream.com/liftconference/video?clipId=pla_8ed41485-3509-47b5-92c2-c89bf2e0f83f&amp;utm_source=lslibrary&amp;utm_medium=ui-thumb">V&iacute;deo - Parte 1</a>.</li> <li><a href="http://www.livestream.com/liftconference/video?clipId=pla_ba8b9381-d3d7-4150-bb85-feb7cb4fd531&amp;utm_source=lslibrary&amp;utm_medium=ui-thumb">V&iacute;deo - Parte 2</a>.</li> <li><a href="/tag/lift10">Mais sobre a Lift 10</a> aqui no Desvio.</li> </ul> http://desvio.cc/blog/lift-10-metareciclagem-futuros-conectados-no-brasil#comments eventos genebra lift10 metareciclagem trip Sat, 15 May 2010 23:43:04 +0000 efeefe 166 at http://desvio.cc Refotografia n'O Bigode do Gato http://desvio.cc/blog/refotografia-no-bigode-do-gato <p><a href="http://refotografia.wordpress.com">Guilherme Maranh&atilde;o</a> foi entrevistado para o podcast O Bigode do Gato. Ele conta um pouco sobre a refotografia e suas fotos com scanners desmontados. Gostei da entrevista, parab&eacute;ns ao Guilherme e a quem faz o Podcast (que na real &eacute; um Videocast, n&eacute;?).</p> <object width="400" height="225"> <param name="allowfullscreen" value="true" /> <param name="allowscriptaccess" value="always" /> <param name="movie" value="http://vimeo.com/moogaloop.swf?clip_id=10332967&amp;server=vimeo.com&amp;show_title=1&amp;show_byline=1&amp;show_portrait=0&amp;color=&amp;fullscreen=1" /><embed src="http://vimeo.com/moogaloop.swf?clip_id=10332967&amp;server=vimeo.com&amp;show_title=1&amp;show_byline=1&amp;show_portrait=0&amp;color=&amp;fullscreen=1" type="application/x-shockwave-flash" allowfullscreen="true" allowscriptaccess="always" width="400" height="225"></embed></object> <p><a href="http://vimeo.com/10332967">O bigode do gato 007 - re-fotografia.</a> from <a href="http://vimeo.com/outgom">Guilherme Outsuka</a> on <a href="http://vimeo.com">Vimeo</a>.</p> http://desvio.cc/blog/refotografia-no-bigode-do-gato#comments gambiologia metareciclagem refotografia Thu, 25 Mar 2010 19:37:54 +0000 efeefe 154 at http://desvio.cc Arte Hackeamento http://desvio.cc/blog/arte-hackeamento <p>&nbsp;Daniel Hora defende essa semana sua disserta&ccedil;&atilde;o de mestrado sobre <a href="http://danielhora.wordpress.com/2010/03/19/dissertacao-de-mestrado/">Arte Hackeamento</a>. Um dos focos da pesquisa &eacute; a rede <a href="http://rede.metareciclagem.org">MetaReciclagem</a> e por tabela o Desvio. J&aacute; dei uma passada de olhos na <a href="http://danielhora.wordpress.com/2010/03/19/dissertacao-de-mestrado/">disserta&ccedil;&atilde;o</a>, e pretendo ler nas pr&oacute;ximas semanas. Enquanto isso, desejamos ao Daniel boa sorte na defesa!</p> http://desvio.cc/blog/arte-hackeamento#comments academia brasil gambiologia mestrado metareciclagem Mon, 22 Mar 2010 18:08:15 +0000 efeefe 152 at http://desvio.cc Fazedorxs http://desvio.cc/blog/fazedorxs <p><img alt="Makers - Capa" width="132" height="200" align="left" src="http://craphound.com/makers/Tor_Makers_Cover_thumbnail.jpg" />Aproveitei o carnaval para terminar de ler <a href="http://craphound.com/makers/">Makers</a>, que eu j&aacute; tinha mencionado no post do <a href="http://desvio.weblab.tk/blog/debate-gambiologia-na-campus-party">debate sobre Gambiologia</a>. Eu fiquei sabendo do livro via twitter (mas n&atilde;o lembro atrav&eacute;s de quem), em novembro: algu&eacute;m comentou que o pr&oacute;ximo livro de <a href="http://twitter.com/doctorow">Cory Doctorow</a> sairia tamb&eacute;m em epis&oacute;dios semanais no Tor.com. A &uacute;nica coisa que eu tinha lido dele at&eacute; ent&atilde;o eram alguns posts no <a href="http://boingboing.net">Boingboing</a> e o Scroogled (em portugu&ecirc;s <a href="http://osvelhotesdosmarretas.com/2007/11/scroogled.html">aqui</a>). O <a href="http://www.tor.com/index.php?option=com_content&amp;view=blog&amp;id=35734">primeiro epis&oacute;dio</a>, que j&aacute; come&ccedil;a dedicado a &quot;quem toma riscos, xs fazedorxs de coisas&quot;. Li no site at&eacute; o terceiro e gostei. Fui l&aacute; na amazon e encomendei o livro antes mesmo de ser lan&ccedil;ado. Ele chegou aqui em Ubatuba no come&ccedil;o de dezembro. Resolvi deix&aacute;-lo de lado para ler no meu recesso de fim de ano, mas o <a href="http://efeefe.no-ip.org/tag/chuvas">reveillon molhado</a> n&atilde;o me deixou muito tempo pra isso. Acabei pegando pra ler mesmo s&oacute; nas &uacute;ltimas semanas.</p> <p>Apesar de situado em um contexto bem diferente - Estados Unidos, empreendedorismo capitalista, toda aquela coisa - eu me vi bastante (e &agrave; <a href="http://rede.metareciclagem.org">MetaReciclagem</a>) em v&aacute;rias partes da hist&oacute;ria. Desde o come&ccedil;o, o lance de come&ccedil;ar uma coisa despretensiosa, de amigxs compartilhando uma vontade simples - fazer coisas, construir estruturas sem pensar muito em resultados efetivos, descobrir. Depois, a busca de estrutura sem sucumbir &agrave; corporifica&ccedil;&atilde;o, &agrave; maneira mais aceita de viabilizar as coisas, refletida na tens&atilde;o entre os fazedores e os executivos. Tamb&eacute;m o lance da rede, da replica&ccedil;&atilde;o aut&ocirc;noma, dos esporos comunicantes mas auto-organizados surgindo, e a surpresa que eles causam. <img alt="Monstro de 1,99" align="right" src="http://farm4.static.flickr.com/3319/3312618009_2d63b01781_m_d.jpg" />A cr&iacute;tica ao consumismo e &agrave; ind&uacute;stria da obsolesc&ecirc;ncia. O ativismo pelo uso pleno das tecnologias, o desvio do uso, a apropria&ccedil;&atilde;o total. E claro, todo o lance de propriedade intelectual vs. cultura livre.</p> <p>Logo no come&ccedil;o, as esculturas de Perry e Lester me fizeram pensar nos monstros de 1,99 do <a href="http://desvio.weblab.tk/desviantes/glaupaiva">Glauco Paiva</a>. E, por mais que o final tenha ficado meio solto, o &uacute;ltimo cap&iacute;tulo tem at&eacute; uma partida de <a href="http://depositodocalvin.blogspot.com/2008/04/calvinbol.html">calvinbol</a>, que simboliza ali a &uacute;nica coisa permanente na hist&oacute;ria - a sensibilidade do fazer, que tem muito a ver com o que aqui a gente tem chamado de <a href="http://desvio.weblab.tk/tag/gambiologia">gambiologia</a>. Tamb&eacute;m fiquei pensando na tradi&ccedil;&atilde;o brico/fazedora/hacker que &eacute; t&atilde;o presente nas culturas norte-americanas, mas &agrave; qual eu nunca dei muita aten&ccedil;&atilde;o. Mas ainda assim, descontadas todas as diferen&ccedil;as culturais e todos os nortamericanismos do lance, foi uma leitura agrad&aacute;vel e que mexeu bastante comigo - muita nostalgia dos tempos do <a href="http://rede.metareciclagem.org/wiki/AgenteCidadao">galp&atilde;o da MetaReciclagem no Agente Cidad&atilde;o</a>, e uma sensa&ccedil;&atilde;o de que algumas coisas nunca v&atilde;o mudar, e de que fazer pouco tamb&eacute;m &eacute; fazer muito.</p> <p><img alt="cybersocial no agente cidadao" width="200" height="150" align="left" src="http://rede.metareciclagem.org/sites/rede.metareciclagem.org/midia/midia/images/montagem01.preview.jpg" />Ler sobre o cotidiano de Perry e Lester, suas sincronicidades e conquistas, seu afastamento e reencontro, sua amizade e complementaridade, tamb&eacute;m me fez pensar bastante no <a href="http://daltonmartins.blogspot.com/">Dalton</a>. Saudades do tempo em que as coisas eram mais simples - ou era a gente que se preocupava menos?</p> <p>&Agrave; hist&oacute;ria ent&atilde;o... (pulando o par&aacute;grafo para quem quer evitar spoilers)...</p> <p>... o livro abre numa &eacute;poca quase-agora, em uma coletiva de imprensa anunciando a fus&atilde;o de Kodak e Duracell. O novo CEO, Landon Kettlewell, anuncia que toda a opera&ccedil;&atilde;o da nova empresa ser&aacute; substitu&iacute;da por times pequenos e inovadores. Ap&oacute;s a coletiva, ele convida Suzanne Church, uma das jornalistas presentes, a acompanhar o trabalho de uma das equipes, que ocupa um Wal-Mart desativado na Florida. Essa equipe &eacute; formada por Lester e Perry, dois fu&ccedil;adores / fazedores / hackers que reusam brinquedos, eletr&ocirc;nicos e aparelhos para montar novos produtos: fazem esculturas para colecionadores, montam um carro operado por bonecos do Elmo (Sesame Street) e por a&iacute; vai. Em pouco tempo, junta-se a eles Tjan, um administrador que vai ser respons&aacute;vel por transformar a criatividade deles em produtos vend&aacute;veis. Eles patinam um pouco, at&eacute; que criam um sistema pra organizar as coisas em casa baseado em RFID, que vende milh&otilde;es. Eles brincam tamb&eacute;m com impressoras 3D. Em algum tempo, Tjan vai para a concorr&ecirc;ncia. Todo um mercado - chamado &quot;New Work&quot; - &eacute; criado. No meio-tempo, mais algumas coisas aconteceram - eles ajudaram a desenvolver uma favela para os sem-teto do outro lado da estrada que tinham sido desalojados, o que vira um laborat&oacute;rio vivo. Eles envolvem o pessoal da favela em algumas coisas. At&eacute; que a bolha estoura e todo mundo cai.</p> <p>Passam-se alguns anos. Lester e Perry montaram um &quot;ride&quot;, que n&atilde;o sei bem como traduzir - como as atra&ccedil;&otilde;es dos parques da Disney - onde est&atilde;o expostos peda&ccedil;os de seus antigos projetos. Os visitantes podem votar nas pe&ccedil;as que gostam ou n&atilde;o, e o parque se rearruma sozinho. Kettlewell e Tjan est&atilde;o aposentados, Suzanne viveu esse tempo na R&uacute;ssia. Em determinado momento eles se reunem. Tjan decide replicar o ride em Boston. Outros rides come&ccedil;am a surgir, de forma emergente, em outras partes do pa&iacute;s. Perry e Lester constru&iacute;ram um protocolo pelo qual os diferentes rides podem modificar a composi&ccedil;&atilde;o uns dos outros. Em meio a tudo isso, aparece Sammy, um executivo da Disney que, enciumado pelo sucesso dos hackers, passa a tentar sabot&aacute;-los, de forma cada vez mais grave. Ele processa os rides com base em direito autoral, o que d&aacute; base para a pol&iacute;cia destruir alguns deles. Kettlewell e Tjan bolam uma estrat&eacute;gia para se contrapor ao tamanho da Disney - criando um mercado que especula contra a&ccedil;&otilde;es na justi&ccedil;a. At&eacute; um toque tupiniquim aparece - da noite para o dia surgem 50 rides no Brasil, sem ter contato com ningu&eacute;m. Enquanto isso, Sammy faz coisas terr&iacute;veis at&eacute; que tem uma ideia que salva sua carreira - transformar impressoras 3D em produtos dom&eacute;sticos, imprimindo pe&ccedil;as da Disney. Em pouco tempo Lester invade o firmware das impressoras para imprimir o que quiser. A Disney fica a um passo de um ataque ainda mais forte, quando aparece uma solu&ccedil;&atilde;o que acaba com toda a tens&atilde;o entre a empresa e as pessoas - e tamb&eacute;m faz todo mundo ficar amigo de novo, etc.</p> <p>Mais quinze anos se passam, os amigos se reencontram e - como mencionei l&aacute; em cima - o livro termina com uma partida de Calvinbol!</p> <p>O fim do livro deixa algumas pontas soltas: n&atilde;o me convenceu de estar resolvida a situa&ccedil;&atilde;o com Death Waits, e acho que Doctorow passou a gostar de Sammy e foi amansando ele. Mas enfim, valeu por v&aacute;rios outros motivos. Recomendo a leitura.</p> http://desvio.cc/blog/fazedorxs#comments doctorow ficção gambiologia gambipunk makers metareciclagem Fri, 19 Feb 2010 00:01:05 +0000 efeefe 141 at http://desvio.cc