gibson http://desvio.cc/taxonomy/term/199/all pt-br William Gibson - Paris Review http://desvio.cc/blog/william-gibson-paris-review <p><a href="http://pt.wikipedia.org/wiki/William_Gibson">William Gibson</a> concedeu &agrave; Paris Review uma longa e fant&aacute;stica <a href="http://www.theparisreview.org/interviews/6089/the-art-of-fiction-no-211-william-gibson">entrevista</a> que entre outrxs foi citada por <a href="http://www.wired.com/beyond_the_beyond/2011/10/william-gibson-interviewed-in-paris-review/">Bruce Sterling</a> e <a href="http://www.kk.org/thetechnium/archives/2011/11/steam-engine-ti.php">Kevin Kelly</a>. Pincei de l&aacute; os trechos a seguir, que traduzo livremente:</p> <blockquote> <p>Cidades me parecem nossa tecnologia mais caracter&iacute;stica. N&oacute;s n&atilde;o nos tornamos realmente interessantes como esp&eacute;cie at&eacute; que conseguimos fazer cidades - foi a&iacute; que tudo ficou diverso, porque n&atilde;o se podem fazer cidades sem um substrato de outras tecnologias. Existe uma matem&aacute;tica nisso - uma cidade n&atilde;o pode crescer al&eacute;m de um certo tamanho a n&atilde;o ser que se cultive, colha e armazene uma certa quantidade de comida nos arredores. E ent&atilde;o n&atilde;o se pode crescer mais a n&atilde;o ser que se entenda como fazer esgotos. Se n&atilde;o h&aacute; tecnologia eficiente de esgotos, a cidade chega a certo tamanho e todo mundo pega c&oacute;lera.</p> <p>(...)</p> <p>Mas eu assumo que a transforma&ccedil;&atilde;o social &eacute; impelida principalmente por tecnologias emergentes, e provavelmente sempre foi assim. Ningu&eacute;m legisla que as tecnologias devam emergir - parece ser uma coisa bem aleat&oacute;ria. E essa &eacute; uma vis&atilde;o da tecnologia que &eacute; diametralmente oposta daquela que eu recebi da fic&ccedil;&atilde;o cient&iacute;fica e da cultura popular da ci&ecirc;ncia quando eu tinha doze anos de idade.</p> <p>Na era p&oacute;s-guerra, al&eacute;m da ansiedade a respeito da guerra nuclear, n&oacute;s pens&aacute;vamos estar conduzindo a tecnologia. Hoje, &eacute; mais prov&aacute;vel sentir que a tecnologia nos est&aacute; conduzindo, conduzindo a transforma&ccedil;&atilde;o, e que isso est&aacute; fora do controle. A tecnologia era vista anteriormente como linear e progressiva - evolutiva naquela vis&atilde;o equivocada que nossa cultura sempre preferiu ter de Darwin.</p> <p><strong>Entrevistador</strong></p> <p>Voc&ecirc; n&atilde;o v&ecirc; a tecnologia evoluindo desse jeito?</p> <p><strong>Gibson</strong></p> <p>O que eu vejo principalmente &eacute; a distribui&ccedil;&atilde;o dela. Quanto mais pobre voc&ecirc; &eacute;, mais pobre sua cultura &eacute;, menos alta tecnologia voc&ecirc; deve encontrar, com exce&ccedil;&atilde;o da internet, as coisas que voc&ecirc; pode acessar no seu celular.</p> <p>Nesse sentido, eu acho que ultrapassamos a era dos computadores. Voc&ecirc; pode viver em uma aldeia do terceiro mundo sem esgoto, mas se voc&ecirc; tiver os aplicativos certos ent&atilde;o voc&ecirc; pode ter algum tipo de participa&ccedil;&atilde;o em um mundo que de outra forma parece um futuro de Jornada nas Estrelas onde as pessoas t&ecirc;m bastante de tudo. E do ponto de vista do cara na aldeia, a informa&ccedil;&atilde;o est&aacute; sendo transmitida desde um mundo onde as pessoas n&atilde;o precisam ganhar a vida. Eles certamente n&atilde;o t&ecirc;m que fazer as coisas que ele precisa fazer todo dia para ter certeza de que vai ter comida para estar vivo em tr&ecirc;s dias.</p> <p>Desse lado das coisas, os Americanos podem ser perdoados por pensar que o passo das mudan&ccedil;as diminuiu, em parte porque o governo dos EUA n&atilde;o consegue fazer infraestrutura heroica n&atilde;o-militar h&aacute; algum tempo. Antes e depois da Segunda Guerra, existia uma grande quantidade de constru&ccedil;&atilde;o de infraestrutura nos EUA que nos deu a forma espiritual do s&eacute;culo americano. Eletrifica&ccedil;&atilde;o rural, o sistema de rodovias, as avenidas de Los Angeles - estavam entre as maiores coisas que tinham sido constru&iacute;das no mundo at&eacute; ent&atilde;o, mas os EUA deca&iacute;ram nisso.</p> </blockquote> http://desvio.cc/blog/william-gibson-paris-review#comments cidades esgotos futuros imaginários gibson urbe Sat, 05 Nov 2011 02:31:57 +0000 efeefe 212 at http://desvio.cc Evertendo - Gibson http://desvio.cc/blog/evertendo-gibson <p>&quot;<em>Everter</em>&quot; n&atilde;o &eacute; um verbo comumente usado em portugu&ecirc;s. Um dicion&aacute;rio online <a href="http://www.dicio.com.br/everter/">sugere</a> que significa &quot;Subverter, deitar abaixo, destruir, derrocar&quot;. Na verdade eu topei com o ingl&ecirc;s [to] &quot;evert&quot; nas p&aacute;ginas do <a href="http://www.livrariacultura.com.br/scripts/cultura/externo/index.asp?id_link=3850&amp;tipo=2&amp;isbn=014101671x">Spook Country</a>, de William Gibson. Pra quem n&atilde;o sabe (algu&eacute;m que me l&ecirc; aqui ainda n&atilde;o sabe?), nos anos oitenta&nbsp;Gibson foi um dos principais autores da literatura <a href="http://pt.wikipedia.org/wiki/Cyberpunk">cyberpunk</a>, o escritor que notoriamente cunhou o termo &quot;ciberespa&ccedil;o&quot;, que imaginou a &quot;matrix&quot; e tudo mais. Ainda n&atilde;o consegui decidir se gosto ou n&atilde;o de seus livros mais recentes - que se situam praticamente nos dias de hoje, n&atilde;o em futuros hipot&eacute;ticos - mas &eacute; fato que ele &eacute; um garimpeiro de ideias que acabam estourando algum tempo depois. Ent&atilde;o aquele &quot;evert&quot; ficou ali me cutucando. Descobri que em portugu&ecirc;s se usa &quot;Evers&atilde;o&quot; para descrever &quot;<a href="http://pt.wikipedia.org/wiki/Evers%C3%A3o">um componente do movimento de prona&ccedil;&atilde;o do p&eacute;</a>&quot;. Mas fiquei tentado e acabei cedendo: alguns meses atr&aacute;s decidi usar &quot;Evers&atilde;o&quot; e &quot;everter&quot; como eixos de investiga&ccedil;&atilde;o sobre os espa&ccedil;os que se criam quando as redes se disseminam pelo mundo f&iacute;sico, sem fronteiras definidas. Aqui vai um trecho maltraduzido das p&aacute;ginas 65 e 66 do Spook Country:</p> <blockquote> <p>&quot;Como voc&ecirc; entrou nisso?&quot;</p> <p>&quot;Eu estava trabalhando com tecnologia GPS comercial. Cheguei naquilo porque achava que queria ser um astronauta, e tinha ficado fascinado por sat&eacute;lites. As maneiras mais interessantes de ver a malha do GPS, o que ela &eacute;, o que temos a ver com ela, o que podemos ter a ver com ela, pareciam estar sendo todas propostas por artistas. Artistas ou o ex&eacute;rcito. &Eacute; uma coisa que tende a acontecer com novas tecnologias em geral: as aplica&ccedil;&otilde;es mais interessantes aparecem no campo de batalha ou em uma galeria.&quot;</p> <p>&quot;Mas essa j&aacute; era militar desde o come&ccedil;o.&quot;</p> <p>&quot;Claro&quot;, ele falou, &quot;mas talvez os mapas tamb&eacute;m. A malha &eacute; simples assim. Muito b&aacute;sica para a maior parte das pessoas terem um entendimento dela&quot;.</p> <p>&quot;Uma pessoa me falou que o ciberespa&ccedil;o estava &#39;<em>evertendo</em>&#39;. Foi assim que ela falou.&quot;</p> <p>&quot;Claro. E uma vez que ele everta, ent&atilde;o n&atilde;o existe um ciberespa&ccedil;o, existe? Nunca existiu, se voc&ecirc; quiser analisar dessa forma. Foi uma maneira de a gente visualizar para onde est&aacute;vamos indo, uma dire&ccedil;&atilde;o. Com a malha, estamos aqui. Este &eacute; o outro lado da tela. Bem aqui.&quot;</p> </blockquote> <p>Corro o risco de precisar explicar tudo isso cada vez que usar o termo, mas pretendo insistir por algum tempo porque n&atilde;o consigo pensar outra express&atilde;o que consiga traduzir isso. Ou procurei pouco?</p> http://desvio.cc/blog/evertendo-gibson#comments cyberpunk eversão everter gibson Sat, 01 Oct 2011 02:13:33 +0000 efeefe 210 at http://desvio.cc