ficção

Fazedorxs

Makers - CapaAproveitei o carnaval para terminar de ler Makers, que eu já tinha mencionado no post do debate sobre Gambiologia. Eu fiquei sabendo do livro via twitter (mas não lembro através de quem), em novembro: alguém comentou que o próximo livro de Cory Doctorow sairia também em episódios semanais no Tor.com. A única coisa que eu tinha lido dele até então eram alguns posts no Boingboing e o Scroogled (em português aqui). O primeiro episódio, que já começa dedicado a "quem toma riscos, xs fazedorxs de coisas". Li no site até o terceiro e gostei. Fui lá na amazon e encomendei o livro antes mesmo de ser lançado. Ele chegou aqui em Ubatuba no começo de dezembro. Resolvi deixá-lo de lado para ler no meu recesso de fim de ano, mas o reveillon molhado não me deixou muito tempo pra isso. Acabei pegando pra ler mesmo só nas últimas semanas.

Apesar de situado em um contexto bem diferente - Estados Unidos, empreendedorismo capitalista, toda aquela coisa - eu me vi bastante (e à MetaReciclagem) em várias partes da história. Desde o começo, o lance de começar uma coisa despretensiosa, de amigxs compartilhando uma vontade simples - fazer coisas, construir estruturas sem pensar muito em resultados efetivos, descobrir. Depois, a busca de estrutura sem sucumbir à corporificação, à maneira mais aceita de viabilizar as coisas, refletida na tensão entre os fazedores e os executivos. Também o lance da rede, da replicação autônoma, dos esporos comunicantes mas auto-organizados surgindo, e a surpresa que eles causam. Monstro de 1,99A crítica ao consumismo e à indústria da obsolescência. O ativismo pelo uso pleno das tecnologias, o desvio do uso, a apropriação total. E claro, todo o lance de propriedade intelectual vs. cultura livre.

Logo no começo, as esculturas de Perry e Lester me fizeram pensar nos monstros de 1,99 do Glauco Paiva. E, por mais que o final tenha ficado meio solto, o último capítulo tem até uma partida de calvinbol, que simboliza ali a única coisa permanente na história - a sensibilidade do fazer, que tem muito a ver com o que aqui a gente tem chamado de gambiologia. Também fiquei pensando na tradição brico/fazedora/hacker que é tão presente nas culturas norte-americanas, mas à qual eu nunca dei muita atenção. Mas ainda assim, descontadas todas as diferenças culturais e todos os nortamericanismos do lance, foi uma leitura agradável e que mexeu bastante comigo - muita nostalgia dos tempos do galpão da MetaReciclagem no Agente Cidadão, e uma sensação de que algumas coisas nunca vão mudar, e de que fazer pouco também é fazer muito.

cybersocial no agente cidadaoLer sobre o cotidiano de Perry e Lester, suas sincronicidades e conquistas, seu afastamento e reencontro, sua amizade e complementaridade, também me fez pensar bastante no Dalton. Saudades do tempo em que as coisas eram mais simples - ou era a gente que se preocupava menos?

À história então... (pulando o parágrafo para quem quer evitar spoilers)... >>Leia mais