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Chegando a Doha

Há alguns meses fui convidado a vir em novembro a Doha, capital do Catar, como designer residente junto ao curso de Mestrado em Design da VCU. O convite faz parte de uma série de ações de intercâmbio entre o Brasil e o Catar que estão sendo desenvolvidas ao longo deste ano. Vou ficar duas semanas trabalhando com um grupo de estudantes com questões de descarte, reuso, conserto e afins. Como já escrevi no começo da semana, espero durante estes dias trabalhar com a ideia de uma "cultura de conserto" como crítica à tal "cultura de fabricação" que vem na esteira dos makerspaces e das impressoras 3D.

Desenvolver isso no Catar está me parecendo apropriado, para minha surpresa. A chegada repentina do Petróleo por aqui criou uma sociedade de consumo que veio totalmente de cima para baixo. O país tem muito dinheiro: o maior ou segundo maior PIB per capita, o melhor IDH da região, o segundo maior investimento em arte do mundo. Por trás do investimento em arte e cultura, aliás, está uma organização chefiada uma princesa hoje com 31 anos de idade, que já falou sobre diversidade no TED. Mas todo esse dinheiro pode ter trazido de forma muito mais acelerada um processo que a gente já apontou no Brasil - a substituição da sabedoria do fazer, do consertar e do adaptar pelo mero consumo. Se uma coisa quebrou, eu compro outra.

Não sei se isso realmente acontece por aqui, mas essa é uma das coisas que vamos investigar durante os próximos dias. Quero crer que mesmo com o acesso a brinquedos mais caros, continua existindo o impulso de adaptar e fazer as coisas, como o cara da moto iluminada. Encontrei esse vídeo, aliás, quando pesquisava sobre o Gulf Futurism, uma provocação que não me parece bem resolvida mas mostra um pouco da tensão entre os grandes planos que acompanharam o gigantesco crescimento econômico e a vida das pessoas. Vou deixar para contar em outro post mais narrativo, mas já adianto que depois de dar umas voltas por aqui não paro de associar Doha com São Paulo. As duas cidades parecem ter muito em comum (para além da piada com a falta de chuvas, ok?), mas em velocidades muito diferentes.

Volto logo com as primeiras impressões.

Gambiarra studies

Nesta quinta embarco para o Catar para uma residência, a convite da VCUQatar. Vou passar duas semanas lá com um grupo de estudantes do mestrado em design da VCU, tratando de gambiarra. Para mim é uma oportunidade de articular minimamente o discurso da "cultura de conserto" que me parece uma crítica necessária à tal "cultura maker". Vamos ver o quanto dá pra avançar sobre isso.